Cinema é arte. Mas também pode não o ser. Isto é uma discussão que obviamente não cabe numa crítica a um filme só e merece uma dissertação, mas quando vejo filmes como Killers of the Flower Moon, é palpável um resultado artístico que rivaliza com qualquer outra forma de arte, seja na forma, no apelo visual ou na forma como o seu conteúdo desperta sensações e provoca o intelecto. Quando vejo Meg 2, percebo que o cinema apenas pode ser apenas e só um produto de uma grande estúdio com o único objetivo de vender bilhetes e pipocas nos cinemas.
Não quero ser mal intepretado. Ter visto estes dois filmes, um a seguir ao outro, foi uma opção e qualquer valorização que faça do que vi tem em conta essa opção tomada. No entanto, não sendo inocente ao ponto de pensar que a caríssima obra de Scorsese não quer também ela vender bilhetes, é mais do que sabido por todos que não quer competir nesse campo com obras como esta que aqui analiso, pretendo ficar para a posterioridade por outros motivos. Assim sendo, ao ver filmes como Meg 2 – e não direi blockbusters porque há blockbusters que provocam o intelecto e querem saber da forma artística – sei ao que me presto e sei que o meu cérebro deve ser desligado durante duas horas para que possa ser recompensado com puro entretenimento. E é aqui que Meg 2 me começa a perder.
Tendo apreciado minimamente a pipocada original, esperava que a sequela fosse pelo mesmo caminho, mas maior em escala. A cena de abertura prometeu-me isso. Nada me indicava que a seguir iria assistir a mais de uma hora pouco entusiasmante, com uma intriga barata entre homens a fazer lembrar os piores filmes da carreira de Steven Seagal. Pior…com quase nenhum tubarão à vista! Foi isto que me foi dado e, na verdade, até se poderá ter tornado mais interessante porque parte do seu argumento, coincidentemente, me fez muito lembrar a vida real e uma recente aventura submarina milionária com muito poucos neurónios à mistura. Isso fez a minha mente viajar um pouco e esquecer o que se passava na tela, que não era bom. Todos os atores pareciam estar a levar isto demasiado a sério e nada disto fazia sentido algum, muito menos num filme que me deveria estar a mostrar um tubarão gigantão maior do que o ecrã. Por volta da hora de filme começou-nos a ser introduzido de forma mais consistente o alívio cómico – um homem negro, claro, nada fugindo aos preconceitos e caixinhas de personagens negras em filmes do género – a um filme que todo ele deveria ser um alívio cómico. Fui aguentando e ainda bem que o fiz.
A verdade é que os últimos 40 minutos deste filme são o que todo ele deveria ter sido. Estúpido. Imbecil. Absurdo. Monstruoso. Se todo o filme fosse o que aquele terceiro ato é, eu estaria aqui a bater-lhe palmas. Na verdade, era apenas isso que eu pretendia daqui. Um entretenimento despretensioso que me fizesse rir do seu descaramento de tentar dar uma capa de verossimilidade a um filme b que poderia pertencer a qualquer prateleira de videoclube dos anos 90. Nesta fase, Jason Statham solta-se das amarras de Seagal baratuxo a muitos metros de profundidade e vem dar o seu espetáculo de super-herói para a costa marítima onde de repente todos os gigantões – tubarões, lagartões que parecem dragões e sabe-se lá mais o quê – se decidiram juntar para arruinar as férias de influencers e ricaços. Numa das primeiras cenas desse ato, a mota de água não pega, mas, no último instante, Statham consegue pô-la a funcionar, levanta a mota e faz uma espécie de cavalinho para se afastar da boca do tubarão como se fosse o Pinóquio a fugir da barriga da baleia. Mais tarde, Statham espera pelo momento certo para enviar o seu rival humano para o mar no exato momento em que o tubarão gigantão abre a sua boca consumindo o tal desprezável e feito de papel ser-humano. Isto, sim deveria ter sido todo o filme.