Parte 1 de Dead Reckoning – Não o melhor, mas entre os melhores de Missão: Impossível

Depois do incrível Fallout, as expetativas para o que viria a seguir na franchise de Missão Impossível eram elevadas. Tom Cruise, o ator que vive Ethan Hunt e que se confunde com a própria saga, vinha de um sucesso avassalador com Top Gun: Maverick e Dead Reckoning – já havia sido anunciado – iria ser uma história ambiciosa dividida em duas partes. A primeira chega agora aos cinemas depois de um ano de atraso em relação ao inicialmente previsto (sim, um tal de COVID foi o responsável), enquanto se espera que a sequela – salvo possíveis atrasos derivados das greves em Hollywood – chegue até nós no verão de 2024. 

Algures entre o terceiro e o quarto capítulo, esta saga começou a sentir-se mais coesa, principalmente no que diz respeito ao que pretendia ser e à criação de um mundo interligado. Chegando até aqui já todos sabemos quem é Julia (Michelle Monaghan), o amor da vida de Ethan Hunt do qual ele teve que abdicar, já todos sabemos quem Ilsa (Rebecca Ferguson) é e a equipa de Hunt está mais do que formada com alguém que lhe acompanha desde o início, Luther (Ving Rhames), mas também com quem lhe acompanha desde o terceiro capítulo, Benji (Simon Pegg), além de termos também o regresso de outras personagens secundárias externas à equipa. E, sim, todos estes repetentes consagrados atores estão a um elevado nível, tal como esperado.

Claro que Tom Cruise é hoje um ator bem mais maduro do que nos primeiros capítulos da saga e, também é verdade que hoje trabalha bem melhor as emoções do ponto de vista dramático, mas as grandes surpresas deste filme até são as estreantes na saga Hayley Atwell – com um papel larguíssimo como Grace – e Pom Klementieff como Paris, uma assassina francesa que acaba por jogar cartadas bem mais importantes do que inicialmente nos parecia. Já no que diz respeito ao vilão, Esai Morales cumpre razoavelmente bem no díficil papel de Gabriel, pois o maior vilão da história até poderá não ter forma ou rosto físico…sim, a Inteligência Artificial é aqui um dos grandes focos e o filme introduz bem o tema, mostrando-nos de forma clara quais são as consequências que podem advir do seu excessivo e incorreto uso. Para evitar que tudo isto corra pessimamente, Hunt terá, assim, que impedir que uma chave – composta por duas partes separadas – caia nas mãos erradas.

É impossível falar do que se tornaram estes filmes sem falar das suas incríveis cenas de ação. Set pieces memoráveis, entusiasmantes e maiores do que a vida. Tudo ainda eleva a sua dimensão quando sabemos do que é Tom Cruise no set e de como este insiste em gravar todas estas cenas no local substituindo o papel de duplos e colocando a sua vida em risco. Sim, está cá a já famosa sequência em que ele salta na sua mota de uma montanha abrindo o seu pára-queda a meio do salto e, por muito que já tenhamos visto a mesma a ser filmada, no filme ainda chega a impressionar mais pelo excelente trabalho que é feito a nível sonoro (já agora, tensa e surpreendentemente marcante banda-sonora de Lorne Balfe!) e cinematográfico, com a câmara colada à sua cara, como se estivéssemos a saltar logo ao seu lado. De cortar a respiração! Mas não é apenas essa cena que se destaca. Toda a sequência final do comboio é incrível, mas tanto as cenas em Roma, como em Veneza (incrível luta nos corredores entre Ethan e Paris!) são daquelas que merecem ser revistas sempre que nos apetecer animar um pouco o nosso dia. Já na primeira hora, há uma explosiva cena de abertura e uma eletrizante perseguição no aeroporto de Abu Dhabi para nos abrir o apetite. 

Dead Reckoning tem, no entanto, problemas. Tem problemas sempre que não estamos nestas gigantescas cenas. As cenas de diálogo estão longe de perfeitas, com demasiada exposição e pouca naturalidade na forma como toda a inforomação nos vai sendo despejada. Não vai também suficientemente a fundo na forma como lida com uma importante perda humana no ato central. Há também várias cenas em que é previsível onde o filme quer chegar, não evitando alguns dos habituais clichés – e alguns até falarão em azeite derramado – do género. Mas isso já é o esperado da saga e não podemos dizer que alguma vez o tenha evitado, embora Fallout tenha sido mais surpreendente na forma como desembrulhou a sua história. 

Dead Reckoning tem, ainda assim, uma surpreendente carta na manga: o humor! É o episódio mais divertido de toda a saga com Cruise a parecer divertir-se mais do que nunca na personagem, proporcionando à audiência inesperadas gargalhadas. O humor normalmente resulta – ainda me rio a reviver na minha mente Jasper (Shea Whigham) a tentar retirar máscaras de todos e quaisquer rostos – mas também pode-se ter esticado em demasia quando é utilizado de forma demasiado fabricada e pouco realista, como na cena em que Ethan Hunt entra no comboio no terceiro ato. 

De uma forma geral, este é mais um triunfo da saga. A parte 1 de Dead Reckoning é um filme de ação que enche as medidas. Tendo a impossível tarefa de suceder a Fallout (que é mais consistente), consegue entreter-nos na sua longa duração com incríveis cenas maiores do que o mundo. Apesar de alguns problemas de exposição de diálogo, é o mais divertido de toda a saga, introduz excelentes novas personagens e deixa-nos ansiosos para o que aí vem.


Mission: Impossible - Dead Reckoning Part One
Missão: Impossível - Ajuste de Contas Parte Um

ANO: 2023

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 163 minutos

REALIZAÇÃO: Christopher McQuarrie

ELENCO: Tom Cruise; Hayley Atwell; Ving Rhames; Simon Pegg; Rebecca Ferguson; Vanessa Kirby; Esai Morales; Pom Klementieff

+INFO: IMDb

Mission: Impossible - Dead Reckoning Part One

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