ESPECIAL MOTELX: Missing é um excelente thriller com várias camadas

Missing começa por parecer apenas mais um thriller japonês e até começa por nos enganar bem nesse sentido. No entanto, é um daqueles filmes com várias camadas que tem muito mais para nos dizer do que aquilo que aparenta, ao mesmo tempo que nos surpreende com alguns interessantes plot twists.

Na história, uma menina vive sozinha com o seu pai que diz ter visto um serial killer procurado pelas autoridades. Como ela já conhece bem o seu pai, nem sequer liga à situação, pois assume que ele está a inventar. Acontece que na manhã seguinte o homem desaparece e todas as pistas parecem sugerir que o seu pai tinha razão quanto à presença do assassino sem nome na cidade…

O primeiro ato de Missing não é o mais eficaz. Parecemos perder demasiado tempo sem sair do mesmo sítio, algumas situações pedem-nos um pouco de crença na sua plausibilidade e o filme parece ir em direção a um desenvolvimento e desfecho banal. Mas praticamente no final desse ato introdutório, o filme brinca com a sua estrutura e vai até ao passado baralhar-nos a cabeça e adicionar uma panóplia de informação preciosa não só para o desvendar do mistério, mas também para entendermos que isto, além de um thriller de serial killer, é algo mais humano, dramático, que muito nos quer dizer sobre relações familiares, sobre dor, sobre perdão, sobre honestidade e, acima de tudo, sobre quem somos e que ações tomamos e queremos tomar. A cena final que envolve uma mesa de ping pong e dois jogadores é das cenas mais simples e fascinantes que já vi postas em prática nos últimos anos.

A realização de Shinzo Katayama é segura e, por vezes, atrevida na forma como nos apresenta inesperadas e absurdas situações. O que não surpreende assim tanto porque embora esta seja a sua primeira longa-metragem, Shinzo foi assistente de realização de Bong Joon-ho, aprendendo com os melhores. A edição e a montagem estão também em destaque num filme que muito perderia caso tivesse uma estrutura tradicional e, por fim, no campo das atuações, um grande trabalho de Aoi Ito no papel de Kaede que é filha, amiga, mas também persistente e inteligente, estando quase sempre um passo à frente de tudo e todos. O pai e o serial killer são as outras duas grandes personagens deste filme e ambos superam as expetativas com papéis muito eficazes de Jirô Satô e Hiroya Shimizu respetivamente.

Em suma, Missing é um thriller que parece ser apenas mais um mas que tem, no entanto, mais camadas do que uma cebola. Comecei por desconfiar, convenceu-me com a sua estrutura e desenvolvimento e acabou por passar o teste com distinção com um poderoso ato final.


Sagasu (Missing)
Missing

ANO: 2022

PAÍS: Japão, Coreia do Sul

DURAÇÃO: 124 minutos

REALIZAÇÃO: Shinzô Katayama

ELENCO: Aoi Ito; Jirô Satô; Hiroya Shimizu

+INFO: IMDb

Sagasu (Missing)

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