Mogul Mowgli (ou o opróbrio em trocar baquetas por um microfone)

Já tirei nabos da púcara, tapei o sol com a peneira, foi-me atirada areia para os olhos na praia uma vez em 2003 e fui comido como parvo quando perdi a virgindade, mas nunca sequer tentei comer gelados com a testa. Nem com meia garrafa de grogue em cima, Riz Ahmed me convenceria a encenar tal ditado, muito menos com 20 minutos de Mogul Mowgli.

Ora analisemos o enredo: um músico talentoso depara-se com uma doença que o atira para a degeneração bem às portas da iminente ribalta. O que acabei de descrever é o sumo fundamental de Mogul Mowgli ou Sound of Metal (2019) onde Riz Ahmed também é protagonista?

Ambos.

Não brinquem comigo nem com o meu tempo! Tudo bem que foi apenas 1h30min (o que desde já merece uma estrela inteirinha) o que se traduz que para este estalo, o realizador Bassam Tariq ao menos tinha a mão macia.

Este filme quer fazer muito com aspecto e orçamento de pouco. Quer falar de muita coisa, quer evocar muita coisa e provocar muitas conversas, mas em maior instância, passa-se por uma toada com experimentalismo, análise social e drama individual e familiar, ao nível de um filho indesejado de Spike Lee e Alejandro Jodorowski.

Nesta trama o protagonista Zaheer (ou Zed para os amigos não-islâmicos/árabes/não-etno-religiosos) é um rapper paquistanês no primeiro terço do primeiro acto. Ainda nesta porção é-lhe colocado um entrave na relação amorosa com uma tipa que lhe chantageia emocionalmente, a perna lhe enfraquece e vai a casa no Reino Unido onde não se dá bem com o pai. Artur Albarran ficaria pesaroso, Hernâni Carvalho iria reclamar com o Governo e Teresa Guilherme apresentaria um programa. Mas eu já vi isto antes…

A parte da comichão social acontece em laivos por todo o filme sobre o que significa ser paquistanês entre paquistaneses, entre indianos no Reino Unido e entre ingleses, mas não é por aí que o filme quer ir.

Surge uma personagem com ares místicos, de uma lenda qualquer paquistanesa (que nunca me suscitou qualquer curiosidade em saber mais) e outros segmentos em flashback e visões também inexplorados que nunca fizeram de mim interessado porque interpretei que Bassam Tariq queria falar apenas com outros paquistaneses no filme nestes momentos.

Alyy Khan, como o Bashir, o pai de Zaheer, é o actor em franco destaque onde a preocupação em dar um arco, ainda pra mais contundente e com genuíno interesse que fosse aprofundado é notória. Este senhor é muito forte e deixou-me uma excelente impressão sempre que aparecia em cena e não era enxotado da tela pelos primeiríssimos planos de Riz Ahmed a tentar por tudo ser emocional apenas com a cara que é composta em 74,2% por olhos. Mas eu já vi isto antes…

A filmografia é de boa qualidade até porque foi preguiçosamente copiada de Sound of Metal, sendo estilhaçada pelas sequências de fantasia/visão/sonho onde os artifícios visuais foram jogar com luzes de cena e cortes rápidos e repetidos. Mas eu já vi isto antes (em testes de epilepsia) …

A banda-sonora é esquecível apesar de o pano-de-fundo da trama ter sido o rap. Triste sina esta de se querer empurrar Riz Ahmed como actor que se desafia a coisas que acabam por ser insultuosamente iguais quando tenta firmar-se como actor com algum talento. 1,5 estrelas para Mogul Mowgli que iniciou tantos temas mas que terminou no princípio que nem devia ter iniciado.


Mogul Mowgli
Mogul Mowgli

ANO: 2021

PAÍS: Reino Unido

DURAÇÃO: 89 min.

REALIZAÇÃO: Bassam Tariq

ELENCO: Riz Ahmed, Alyy Khan, Anjana Vasan

+INFO: IMDb

Mogul Mowgli

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