Em Moonfall, o absurdo torna-se ainda mais absurdo

Roland Emmerich é conhecido como o “realizador-catástrofe”. Durante a sua carreira esteve por detrás de superproduções que envolveram a potencialidade do fim do mundo como provável desfecho: Independence Day, The Day After Tomorrow e 2012 serão os três maiores exemplos. Aqui em Moonfall ele regressa a um género hoje visto como gasto, com tantos clichés já mais do que utilizados e vistos. Ainda assim, sempre olhei para este tipo de filmes com um especial carinho e normalmente saí satisfeito com aquilo que eles me tinham para me dar: diversão sem muitas pretensões, uma escala gigantesca de destruição e sempre uma boa dose de heroísmo a temperar os acontecimentos.

Este Moonfall prometia ser isso mesmo. Com um elenco de estrelas – Halle Berry, Patrick Wilson, John Bradley e Michael Peña fazem parte do mesmo -, o filme conta-nos que uma misteriosa força fez com que a Lua mudasse a sua órbita, enviando-a numa trajetória que poderá significar o fim do planeta Terra e da vida humana. Tudo isto tinha cara de Emmerich, tudo isto tinha cara de ser uma diversão cheesy que me iria agradar. E assim foi durante o primeiro ato. Usando vários clichés do género – o astronauta caído em desgraça; a pessoa que ninguém quer ouvir e que sabe o que se passa; dramas familiares que envolvem pais divorciados e filhos rebeldes; militares que apenas pensam no uso da força – o filme conseguiu convencer-me durante este período por dar-me aquilo que eu queria ver: personagens engraçadas, um ritmo rápido, algumas referências à cultura atual e, acima de tudo, imagens de destruição gigantescas e poderosas. Estava completamente preparado para ser levado por mais um filme de Emmerich, com um desenvolvimento e desfecho previsível e não iria criticá-lo por ser exatamente aquilo que prometia ser. Olhei para a duração e ainda faltava uma hora e meia: “mau, o que será que vão inventar aqui?”…

Os meus maiores receios confirmaram-se. Num enredo em que Emmerich não define muito bem se quer que isto seja um Armageddon – ah, faltava uma referência ao Bay! – ou um Independence Day, o filme começa a perder a sua pouca credibilidade, mínima lógica ou até interesse por cada minuto que passa. Desde pessoas comuns que se tornam astronautas em minutos a heróis que o querem ser colocando em causa a sua vida por alguém que conheceram há apenas algumas horas, passando por um militar que coloca a sua vida – e o mundo, com os factos que tinha à altura – em risco com base num palpite acerca da ex-mulher…aconteceram aqui tantas coisas que me fizeram revirar os olhos que nem me admirei muito quando vi um carro a voar à lá Fast & Furious numa das cenas mais estúpidas e delirantes em filmes do género. E sabem que mais? Por incrível que pareça nada disto supera a loucura e a absurda reviravolta que o guião tomou no terceiro ato, digno dos maiores – ou dos mais tresloucados – podcasts de teorias de conspiração que possam conhecer. Não vou contar, vejam. Eu não acreditaria em quaisquer palavras que me falassem disto…só visto!

Os atores fazem o trabalho que lhes é pedido – se bem que Wilson parece estar cá apenas para receber a massa, Berry parece levar-se demasiado a sério e Bradley é o que mais adequado parece estar dentro da anormalidade dos acontecimentos – mas obviamente não são eles o que mais importa aqui. No campo visual, há algumas sequências e planos espetaculares e com a grandeza esperada. Ainda que alguns efeitos especiais pareçam demasiado artificiais, não é no aspecto visual que Moonfall me deixou de convencer, pois aqueles planos com a Lua como plano de fundo são mesmo belos de se ver. Foi em quase tudo o resto.

Tenho uma boa tolerância e um gosto particular – autênticos guilty pleasures! – por filmes de destruição da Terra, por muitos clichés que os mesmos apresentem. Este filme estava-me a dar isso mesmo até entrar numa espiral totalmente louca e absurda que nem a ingestão exagerada de cogumelos mágicos é capaz de explicar. Para a próxima, Roland, dá-nos apenas exatamente aquilo que todos esperamos.


Moonfall
Moonfall - Rota de Colisão

ANO: 2022

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 130 minutos

REALIZAÇÃO: Roland Emmerich

ELENCO: Halle Berry, Patrick Wilson, John Bradley, Michael Peña

+INFO: IMDb

Moonfall

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