É com enorme prazer que a Fala Visual volta a cobrir o MOTELX, o maior festival de cinema de terror em Portugal! Nos próximos dias iremos falar-vos de tudo o que vamos vendo no festival que decorre até ao dia 18 de Setembro. Iremos prosseguir com a nossa atual abordagem a festivais, em formato de mini-críticas, de forma a que possamos falar de tudo o que vimos no mais curto espaço de tempo.
Estranho Caminho
Realização: Guto Parente
Elenco: Lucas Limeira, Carlos Francisco, Tarzia Firmino
País: Brasil
Poderá parecer estranho Estranho Caminho fazer parte da programação do MOTELX, pois o terror não está logo escancarado na nossa cara. Existe, ainda assim, um tom de mistério próprio do cinema do género e grande parte da mensagem passada – e a forma como isso é feito – adequa-se ao espírito do festival. Indesmentível é que Guto Parente sabe o que faz e o que quer dos seus filmes. Neste filme, ele fala-nos da história de David, brasileiro residente em Portugal, que regressa ao Brasil para apresentar a sua primeira longa-metragem num festival de cinema. Aí é apanhado pela pandemia do Covid-19 e irá ser forçado a retomar a conexão perdida com o seu pai.
A pandemia está presente no filme desde a sua primeira cena. Isso irá acompanhar-nos durante toda a obra, quer em termos do que nos é mostrado em cena, mas também a nível temático. A nível temático, fá-lo tanto de uma forma social, como de uma forma mais pessoal, abordando de forma inteligente a forma como nos relacionamos com as outras pessoas, em especial com aqueles que nos são mais próximos. É um filme muito bonito do ponto de vista visual, com momentos de brilho artístico e servirá muito bem de cápsula de tempo a um tempo que não queremos mais voltar.
Narrativamente, poderia ser um filme mais polido e o rumo que toma no seu terceiro ato poderá ser difícil de encaixar por aqueles que gostam de todas as explicações em tela – embora goste mais do que é feito nesse final a cada minuto que passa -, mas o que ninguém pode negar é que este é um filme bastante pessoal, muito engraçado e, simultaneamente, tocante, que deve ser visto por todos os pais, filhos e filhas.
Hostile Dimensions
Realização: Graham Hughes
Elenco: Stephen Beavis, Joma West, Annabel Logan
País: Reino Unido
Nada sabia de Hostile Dimensions, além de que foi feito com um baixo orçamento e que fala de pessoas do meio do cinema. As pessoas do meio são, na verdade, documentaristas independentes que procuram um projeto com apelo comercial depois de tentativas mais artísticas que foram bem recebidas, mas que não produziram o resultado financeiro desejado. Para tal, começam a investigar um misterioso desaparecimento do qual apenas existe um estranho video que parece inidicar que uma rapariga desapareceu por cruzar uma porta no meio de uma sala de uma casa abandonada.
O conceito do filme é bastante interessante e o realizador, Graham Hughes, parece recheado de boas ideias, trazendo para cima da mesa algumas das mais malucas teorias e imagens que vi nos últimos tempos. O misto de ficção científica, mistério e terror resulta bastante bem, mantendo-nos sempre interessados, ao mesmo tempo que o tom leve, com algum bom humor, nunca é abandonado. No final do segundo ato perde parte da sua força ao enrolar-se um pouco e nem todas as conclusões dos arcos satisfazem, mas é uma experiência muito recomendada para quem gosta de coisas diferentes e que me fará seguir este realizador com muita atenção no futuro.
KKN di Desa Penari
Realizador: Awi Suryadi
Elenco: Tissa Biani, Adinda Thomas, Achmad Megantara
País: Indonésia
Expetativas elevadas tinha eu para este filme depois do conterrâneo Satan’s Slaves 2 ter estado entre os meus favoritos na edição 2022 do MOTELX. É que este filme vinha com o rótulo de “terror com maior bilheteira de sempre do cinema indonésio” e, tal como os filmes de Anwar, tinha uma grande componente de terror folk. Mais uma vez, relembro: a bilheteira nada diz sobre a qualidade de um filme. Na história, um grupo de seis estudantes decide passar o seu programa comunitário obrigatório numa vila remota. Acontece que esta vila tem regras e os estudantes – como bons jovens que são – decidem que violá-las talvez faça sentido.
O set-up do filme é interessante, a atmosfera bem construída e o trabalho de maquilhagem está muito preciso e realista. Também gostei dos seus elementos mais místicos, como a bruxa dançarina e de todo o mistério à sua volta. O problema é que a história é filmada de modo pouco entusiasmante e pouco focado, fiando-se quase exclusivamente em sustos fáceis (que nunca resultam), em mau diálogo e numa exagerada repetição dos mesmos elementos outra e outra vez. Para acompanhar tudo, há uma banda-sonora de fundo sempre presente, quase que a embalar-nos – pudera, o diálogo parece de telenovela – e já sabemos que quando a mesma pára…é porque o susto fácil vai ser tentado. Nada contra estes sustos. Desde que resultem. Nada contra adolescentes irritantes. Desde que saibam atuar. Nada contra um realizador tentar incorporar demasiado num só filme. Desde que tenha unhas para tocar essa viola.