Fechamos com este trio a nossa cobertura ao MOTELX deste ano. Dois filmes que recomendamos e um outro que ficou abaixo das expetativas. O maior festival de cinema de terror em Portugal regressa em setembro de 2024.
New Normal
Da Coreia do Sul chegam-nos muitas vezes os filmes mais disruptivos no que diz respeito à sua abordagem e mistura de géneros. New Normal segue essa tendência. Não é o primeiro filme a juntar várias situações episódicas, aparentemente desconexas, para depois as juntar no final. É, no entanto, muito eficaz na forma como nos apresenta situações pesadas – uma série de homícidios que assolam Seul – de uma forma, simultaneamente, sádica e cómica. Ao início poderá existir alguma dificuldade para entrar no espírito da obra, mas, sem se aperceberem – e caso não sejam pessoas demasiado sensíveis -, a obra irá conquistar-vos pelo caricato que vai aparecendo em cena, pelas boas personagens (e atores) e pela sempre presente acidez na crítica social que faz.
Tecnicamente, o filme brilha no que diz respeito à sua edição e tem também uma boa fotografia. A banda-sonora, por vezes, é estranha demais para o que vai acontecendo no ecrã, mas também tem os seus momentos de elevação. Algumas situações são mais engraçadas, outras mais violentas, outras mais aterrorizantes. Todas elas são bastante eficazes e o humor negro sempre presente. Procurar uma mensagem em New Normal é tempo perdido, pois o filme é tão cínico quanto acredita que é este novo normal.
Good Boy
Realização: Karoline Lyngbye
Realização: Viljar Bøe
Elenco: Gard Løkke, Katrine Øpstad Fredrikse, Nicolai Narvesen Lied
País: Noruega
Falando de situações estranhas, é difícil algo ser mais estranho do que o conceito de Good Boy. Dois jovens “matcham” no Tinder e o primeiro encontro corre muito bem. Até a uma certa parte. É que a rapariga, Sigrid (Katrine Fredriksen) descobre que o rapaz, Christian (Gard Løkke) – que tem um casarão de luxo – vive sozinho numa casa com um cão. Mas um cão que não é bem um cão. Na verdade, este cão é um amigo seu que se mascara e comporta-se como um cão ininterruptamente. Red flag? Talvez. No entanto, o rapaz é bonito, parece bem-educado e…é podre de rico. Depois de pesquisar online práticas semelhantes à do amigo, Sigrid decide mesmo dar uma oportunidade ao romance com Christian.
Ultrapassar a estranheza da situação torna-se relativamente fácil pela forma como o guião trabalha isso, racionalizando através das personagens a aceitação de determinados comportamentos, por muito estranhos que pareçam. A dupla principal demonstra uma boa química e o ritmo é bom, com duas partes totalmente distintas. Chegando-se ao início do terceiro ato, perde-se alguma da alma e chama do filme, quando começa a ficar mais claro aquilo que é. Ainda assim, tem um final à “filme nórdico” inspirado e bem conseguido. Uma experiência que não será para todos, mas que recompensará quem procura algo diferente com qualidade.
Pensive
Realização: Jonas Trukanas
Elenco: Šarūnas Rapolas Meiliešius, Gabija Bargailaitė, Marius Repšys
País: Lituânia
O primeiro slasher lituano também esteve presente nesta edição do MOTELX e o primeiro impacto foi muito positivo, com uma fotografia bem conseguida e uma interessante introdução dos jovens estudantes que acabavam de terminar o seu ensino secundário. Claro que este jovens vão festejar o término desta fase das suas vidas da única forma que os jovens sabem: regados a muito álcool, música alta e poucas regras. Para isso, furado o primeiro plano, vão até a uma casa remota inabitada. Aí descobrem umas estranhas estátuas feitas de madeira, bem como uma série de boatos chocantes que rodeiam a sua história.
Excelente introdução. Vai começar a matança, certo? A verdade é que não. A introdução já tinha sido longa, mas o filme ainda irá continuar a fazê-lo até aos seus 45 minutos quando se dá a primeira morte. Parece-me manifestamente exagerado para um slasher, mas pior ainda é o que faz com a condução da sua matança. Se algumas mortes são imaginativas, a forma como desenvolve a sua personagem principal e o romance tem muito pouca lógica, mesmo que o objetivo tenha sido surpreender. Surpreende, sim, mas fá-lo suportado em muito pouca lógica. Para completar tudo isso, pouco ou nada faz com aquele interessante folclore local, desperdiçando todo o potencial que tinha. Desapontante.