A beleza do cinema é que há sempre algo para todos e para todos os momentos. Se o que queremos é ver algo transcendental com camadas de subtexto e diferentes significados, há várias opções. Se quisermos ver um filme que nos desperte sentimentos puros, como o medo ou a ansiedade, há também várias possibilidades. E se quisermos ver algo apenas para passar o nosso tempo desligando o nosso cérebro, alternativas não faltam.
Murder Mystery – o primeiro – nunca escondeu o que queria ser. Não é um filme para ganhar Óscares ou para convencer críticos. É um filme que é para se colocar numa tarde ou noite leve em família, podendo todos mandar os seus bitaites e rir com o seu humor previsível e forçado. Não é um grande filme e, na verdade, até o acho muito menos engraçado do que deveria ser. No entanto, tem alguns bons momentos e uma dupla interessante e boba em Adam Sandler e Jennifer Aniston que vão tentando resolver um mistério e vários assassinatos à sua maneira, numa espécie de mistério à Hercule Poirot ou Benoit Blanc que se leva pouco a sério.
Já sabia para o que vinha para esta sequela. Não poderia esperar um Adam Sandler numa interpretação transformativa à Daniel Day Lewis ou de um desfecho impactante comum em thrillers do David Fincher. Desde o início, este segundo capítulo dá mostras de apostar em valores de produção mais cuidados, fruto, claro, do maior orçamento proporcionado pela Netflix. Embora o mistério da morte seja aqui diferente, volta a andar à volta de pessoas ricas e da patetice dos nossos investigadores. A fórmula é semelhante, embora guarde algumas surpresas. No entanto, o filme sabe exatamente o que é. Não tenta ser o que não é e essa honestidade é o seu maior trunfo. As pessoas queriam ver uma comédia de ação de Adam Sandler – com o seu humor muito característico – e é isso que daqui levam.
Melhor ainda: o filme fá-lo melhor do que o primeiro o fez. As piadas têm mais…piada e isso para mim é a sua maior qualidade, pois não achei lá grande piada ao que o primeiro fazia. Adicionalmente melhora muita na ação, tendo números muito interessantes e surpreendentes para apresentar – dentro do que se pode esperar do mesmo – e o casal Sandler-Aniston, o nosso casal Spitz, está mais afinado do que no primeiro capítulo. Quanto às outras personagens, o primeiro já fazia um bom trabalho, mas é sempre interessante ver o regresso de algumas caras conhecidas (as poucas que sobraram!), bem como boas adições que sabem em que tipo de filme estão. Mark Strong vive a versão estereotipada expectável de um ex-agente do MI6, Jodie Turner-Smith uma rica ressabiada e insuportável e Enrique Arce vive o mesmo sexista que já o vimos fazer como Arturito em La Casa de Papel, dando-nos alguns dos momentos mais divertidos da obra.
Não há muito que se possa dizer deste filme sem que se revele algumas das suas surpresas, até porque o próprio filme tem pouco a dizer. É, acima de tudo, um divertimento sem compromissos onde poderão – deverão – desligar o vosso cérebro. Seria muito fácil sacar do meu snobismo e usar este filme como saco de pancada. Afinal, é um daqueles que esquecerei em poucas horas e que dá perfeitamente para se ver enquanto se lava a loiça ou se passa a roupa a ferro. No entanto, é também um filme honesto que entrega o que promete entregar, dando-nos uma sequela com mais ação, maior em escala e mais divertida do que o filme original o foi.
