Imagine Collateral, mas sem metade da tensão que o filme de 2004 contém. Agora, substitua o intenso Tom Cruise de cabelo platinado por um Nicolas Cage com cabelos vermelhos entregando uma de suas atuações caricatas e barulhentas. Parece divertido, certo? Mas não fica por aí: adicione à equação um universo realista composto por um elenco de personagens densas e extremamente críveis. Não parece muito condizente, não é mesmo? Pois é. Isso é Sympathy for the Devil.
Joel Kinnaman vive um pai de família que está indo de encontro com sua esposa, que está em trabalho de parto. Ao chegar ao estacionamento do hospital, ele é surpreendido por um homem misterioso, vivido por Nicolas Cage, que o ameaça com uma arma de fogo e ordena que dirija sem destino prévio.
Temos como protagonista um motorista desesperado, que anseia estar junto da esposa, que já perdeu um bebê no passado, para apoiá-la durante o parto, além de temer perder a vida e ser privado de conviver com sua família. Um homem comum, escrito e composto com veracidade e peso. Kinnaman merece destaque, pois está muito bem no seu papel. Já como antagonista, temos um espalhafatoso, exagerado e alucinado passageiro. O vilão vivido por Cage é tudo o que se pode esperar das personagens absurdas que gosta de assumir. Ele faz caretas e berra muito, isso tudo de maneira exageradamente caricata. Não há o que negar, o trabalho do cara é um espetáculo! Se maravilhoso ou desastroso, sinceramente, não sei bem dizer. Mas é um espetáculo.
E é claro que tal combinação não funciona muito bem. O filme é simplesmente desarmônico. Não há nada de condizente entre o passageiro sequestrador e o restante do filme. A personagem de Nicolas Cage está sempre descolada dos demais elementos de Sympathy for the Devil.
Talvez a única coisa que mantenha o passageiro presente no universo do filme, que o faz pertencer àquele mundo, seja a luz avermelhada que insiste em o acompanhar, empregando a ele uma aura demoníaca, ameaçadora. A fotografia de Sympathy for the Devil é inspirada, fazendo bom uso de uma iluminação que aproveita do contraste entre luzes quentes e frias, saturadas, de tons avermelhados e azulados. O vermelho procura cercar o passageiro, o azul o motorista. Quadros interessantes são formados quando os dois dividem o mesmo take, e é aí que o vilão de Cage recebe o direito de fazer parte daquele universo. Querendo ou não, sua presença faz da composição visual do filme algo muito mais vistoso.
Mas enquanto ao argumento de Sympathy for the Devil, o que há a se dizer? Bem, acredito que a palavra certa para descrever o texto do filme seja desapontante. De início, tudo parece muito promissor: há tensão, pois tememos pela vida e família do protagonista, e há mistério, pois não sabemos quem o passageiro é. Talvez seja o próprio diabo! O título com a palavra Devil, Diabo em português, é bem sugestivo, e a atuação de Cage parece oriunda de outro mundo. Então, é difícil não ficar engajado com os primeiros minutos do filme. Porém, com o passar do tempo, Sympathy for the Devil nos perde com um desenvolvimento pouco original, que só faz dar pistas de que se encaminha para a conclusão mais previsível possível, ao mesmo passo que as pirações de Cage ficam cada vez mais alucinantes e gratuitas.
E o final previsível chega. E as revelações são pouco críveis e entediantes. E a confusão de não conseguir decidir se Nicolas Cage é a bênção ou a desgraça do filme bate forte. Um saldo final? Bem, apesar da nota negativa no rodapé desta resenha crítica, digo sem pensar duas vezes que Sympathy for the Devil vale à pena ser conferido. Afinal, é sempre divertido ver Nic Cage em ação!