A única coisa que me fazia querer assistir a No Hard Feelings (Tudo Na Boa) é o fato de o filme ser estrelado por Jennifer Lawrence. Eu esperava algo genérico e forçado, mas fui surpreendido por uma boa dose de diversão que, apesar de não apresentar nenhuma inovação ao cenário de filmes de comédia, traz boas ideias em seu argumento.
Maddie, personagem de Lawrence, aceita a proposta de pais burgueses, super protetores, de tentar seduzir seu filho adolescente, no intuito de torná-lo mais extrovertido e menos inocente. Em troca do serviço bem feito, Maddie deve receber um carro do casal, a peça chave para resolver seus problemas financeiros.
No Hard Feelings se estrutura com um argumento nada original: uma mulher linda e sedutora vai de encontro com um menino introvertido e inseguro. O choque entre as duas personalidades é grande, mas a experiência faz com que os dois aprendam muito um com o outro. A ideia é sim, batida, mas, diferente do que esperava, o filme não soa gratuito e preguiçoso. Piadas sobre como Maddie é gostosa e Percy, o menino vivido por Andrew Barth Feldman, é ingênuo, povoam momentos do filme, mas ele não se resume apenas a isso. No Hard Feelings é conduzido de forma muito simples, mas garante ao público personagens carismáticas, compostas de profundidade suficiente para possibilitar nos importarmos com elas, e não simplesmente rir de composições estereotipadas.
É claro que com uma proposta dessas, No Hard Feelings foge de abordagens realistas e aposta em exageros. Maddie se permite passar por situações que qualquer pessoa sensata evitaria, e Percy ultrapassa os limites de qualquer criação cheia de mimos e privações. É absurdo, e faz rir bastante. Me sinto extremamente besta por assumir isto, mas ver Lawrence com o garoto sentado em seu colo, logo após tentar seduzi-lo com um lap-dance, é simplesmente irresistível.
Porém, o que fez com que No Hard Feelings me conquistasse, foi a forma como o filme aborda certos assuntos que recheiam seu enredo besteirol. Choque geracional, política de cancelamento, liquidez de relações e até gentrificação. O filme traz uma série de assuntos interessantes, e os apresenta sem os típicos cinismos ou criticismos geralmente associados a eles. As coisas são como elas são, e podemos às enfrentar chorando, ou simplesmente dando risadas. É descomplicado, sem pretensões, divertido e envolvente.
Os dois principais astros de No Hard Feelings são ótimos. Feldman encaixa tão bem em seu Percy, que convence que suas atitudes absurdamente inocentes são genuinamente cabíveis. Entretanto, quem brilha mesmo é Jennifer Lawrence. A consagrada atriz prova mais uma vez sua versatilidade, sendo capaz de estrelar desde dramas conceituados, até comédias besteirol, como é o caso desse filme. Seu timing cômico é perfeito, e convence sempre que precisa demonstrar sensualidade, brutalidade, fragilidade ou estupidez. Maddie é mais complexa do que parece em um primeiro momento, e muito disso se deve ao talento de Lawrence.
No Hard Feelings parece ser qualquer coisa, e é simples mesmo. Mas não se deixe enganar pelas aparências. O filme é genuinamente divertido, povoado por personagens carismáticas e suficientemente profundas. Traz boas ideias em seu argumento, das quais discute com despretensão e bom humor. Não é nada memorável, mas, certamente, um bom investimento para quem procura dar boas risadas.