Depois de sucessivos adiamentos, finalmente chegou 007: No Time to Die. Sem tempo para morrer, mas com uma duração superior a 2 horas e 40 minutos, este 007 é mesmo o último de Daniel Craig a viver o papel de James Bond, o espião favorito de todo o planeta há já quase seis décadas.
Com Cary Joji Fukunaga na realização, este é um 007 com um pouco de tudo que deverá agradar a vários tipos de público. Introduz elementos novos na saga, atualiza-se com uma lufada de ar fresco que não cheira a imposição, mas sim a uma natural evolução dos tempos, sem, ainda assim, retirar tudo aquilo que sempre caracterizou os filmes de James Bond. Temos um forte e temível vilão, temos alucinantes perseguições de carros, temos ação e tiros com fartura, temos cenas pouco credíveis mas sempre espetaculares, temos o charme de Bond e, claro, temos várias mulheres bonitas a rodeá-lo a cada instante (será que estou autorizado a dizer isto em 2021?). Temos, ainda, direito a várias surpresas positivas que dão uma maior dimensão humana a uma personagem que, em tempos, já evitou mostrar emoções pois isso era visto como pouco macho.
A cena de abertura é eletrizante e excitante, como é apanágio de qualquer 007 – confesso mesmo que nunca na saga vi uma má cena de abertura. Aí percebemos logo que este é um filme onde veremos um Bond introspetivo, a pensar no seu futuro e nas suas relações, mas um Bond que também tem dificuldade em confiar em (quase) todos os que o rodeiam. Essa cena inicial em Itália é fantástica, onde podemos ver o Bond que ele queria ser e o Bond que não consegue deixar de ser. Ainda assim, após o que se passou em Itália, James decide reformar-se e ir viver, no meio de um certo luxo, na Jamaica. Cinco anos passaram e, como era de esperar, os problemas vêm literalmente ter consigo. Não sendo deixado em paz e com uma morte próxima para vingar, o nosso espião regressa, então, a Londres e recomeça relutantemente a trabalhar, mais uma vez, para o MI6, mesmo que o “lugar” de 007 esteja agora ocupada por um outro agente. Outra, na verdade. Falamos de Lashana Lynch, que tem um papel interessante como Nomi, uma personagem forte, com vários alívios cómicos e algumas cenas marcantes (até usa a esperada expressão “time to die”!), embora fique a sensação de que seja curta para carregar a saga, como se chegou a pensar que pudesse vir a acontecer.
No elenco, este No Time To Die traz uma grande diversidade de atores e atrizes de nível bastante elevado. Léa Seydoux está de volta como Madeleine Swann, mostrando neste filme uma química com Craig bem maior do que a que vimos em Spectre e arregaçando também as mangas para algumas boas cenas de ação. Naomie Harris, Ralph Fiennes, Ben Whishaw e Jeffrey Wright regressam e cumprem nos seus papéis de Eve Moneypenny, M, Q e Felix Leiter respetivamentem e Ana de Armas dá-nos um cheirinho da sua graça como espiã, com uma algo curta, mas certeira prestação por terras cubanas. Christoph Waltz também regressa no papel que desempenhou em Spectre, embora preso, não tenha aqui um papel de destaque, limitando-se a algumas poucas cenas, onde ainda assim mostra o seu carisma. O papel de vilão principal é, no entanto, aqui representado por Rami Malek, vencedor do óscar em 2019, que tem alguns momentos para brilhar, principalmente perto do final, onde demonstra toda a sua versatilidade como ator. Malek faz bastante bem o que lhe é dado para fazer, mas, ainda assim, não considero que seja um vilão que esteja à altura de outros desta fase Bond, ficando aquém do que fez Mads Mikkelsen em Casino Royale ou Javier Bardem em Skyfall. Fica, ainda assim, a ideia de que isso acontece mais pelo fato do guião desenvolver pouco a personagem e dar pouco para ser trabalhado, o que é até de espantar num filme com uma duração bem considerável.
Mas a estrela aqui é mesmo Bond, ou seja, Daniel Craig. Quem vê No Time to Die já sabe o que espera. Craig sempre foi um James Bond mais cerebral, mais comedido, menos sorridente e até mais cínico em relação à vida do que versões anteriores do espião. Não há nada de errado nisso e eu, pessoalmente, até acho esta versão mais realista, mais polida artisticamente e mais enquadrada com os tempos atuais. Aqui, Craig volta a demonstrar o seu amadurecimento na personagem, sendo o filme onde vai mais além em termos emocionais, merecendo todos os nossos aplausos. E deixo-vos mesmo um aviso: preparem-se para uma cena final de vos tirar os pés, onde Craig deu mesmo tudo. Por uma última vez!
Os efeitos especiais estão a um excelente nível e os fãs de ação irão deleitar-se com alguns excelentes momentos de diversão pura, onde até podemos apreciar Bond a montar armadilhas em campo aberto, parecendo um autêntico Rambo. No Time to Die não é um filme perfeito e pode não desenvolver certas personagens tanto quanto queríamos. Talvez não seja tão bom quanto Casino Royale ou Skyfall – que verdade seja dita, além de serem os melhores da fase Craig, estão no top 5 de melhores de sempre de qualquer Bond – mas fica bem próximo desse nível. Recheado de adrenalina, drama, charme, emoção e ação, dá-nos tudo o que um filme de James Bond deve ter, trazendo algumas boas novidades. Fecha, ainda, com chave de ouro, com uma cena final surpreendentemente sentimental que irá cortar a respiração de muitos. Obrigado, Craig. Valeu bem a pena este ciclo!
No Time to Die é conhecido no Brasil também como Sem Tempo, Irmão hehe