O Corpo Aberto é uma co-produção portuguesa e espanhola onde o Galego e o Português se interligam como idiomas principais. O filme tem uma atmosfera sombria e percebe-se desde cedo que pureza daquelas personagens só a vinda das crianças, mas já lá vamos!
Um novo professor, Miguel, chega a uma remota aldeia. Disposto a fazer a diferença, procura desde logo alterar alguns dos hábitos daquela pequena comunidade no que ao ensino de crianças diz respeito. Acontece que também conhece Dorinda e desenvolve com ela uma certa proximidade que ele nunca consegue esconder querer que seja algo…ainda mais próximo. Acontece que Dorinda é casada com e para piorar a situação…tem um outro amante, Mauro, o homem de estilo macho tradicional que mata animais como quem toma um copo de água, mas que é um coração mole com Dorinda, que não é lá muito bem tratada pelo seu marido.
Se tudo isto vos parece confuso esperem até O Corpo Aberto assumir a sua dimensão metafísica onde pessoas podem morrer mas as suas almas são aparentemente transferidas para o corpo de outras. Ou será isso apenas o que as pessoas vivas querem acreditar que acontece? Essas interrogações ficarão connosco durante todo o filme e até criam um dos maiores problemas do filme que é o seu terceiro ato, onde de tanto se embrulhar e caminhar na fronteira entre o real e o imaginário quase nos retira o interesse da trama, pois, literalmente qualquer coisa pode acontecer. Ou parecer que acontece. Ou…só sabemos que nada sabemos, citando quem disto percebia.
De qualquer forma, por largos momentos, O Corpo Aberto é bem eficaz. Embora não assuma a dimensão de terror mais esperada e não procure criar medo na sua audiência, há cenas bastante bem conseguidas. Uma delas envolve a classe de crianças logo após elas verem uma pessoa morta, uma cena cómica e irónica que não deveria resultar tão bem quanto resulta. Mais tarde, também quando vemos uma sui generis cerimónia pós-morte que inclui a fotografia da praxe, bem como algumas cenas de sexo que de tão intensas e fora do comum se tornam comicamente elevadas. Seria essa a intenção?
O trabalho do leque de atores é bastante positivo e o mesmo se pode dizer das áreas técnicas do filme. A realizadora optou por uma abordagem muito focada nas personagens e realça isso ao utilizar um aspeto de filmagem mais fechado. Mas nem tudo corre bem. Por vezes, o ritmo é um problema para o desenvolvimento desta história que parece precisar sempre de uma morte como plot device. Um susto, uma cena de suspense ou até uma outra qualquer cena absurda não ficariam nada mal de forma a preencher um certo marasmo que marca o meio do 2° ato, apesar da curta duração da obra e de todas as questões metafísicas que pretende abordar. O conflito entre ciência e religião, por exemplo é algo que poderia e merecia um maior aprofundamento, apesar de se andar lá à volta por várias vezes.
O Corpo Aberto vale por algumas cenas originais, vale por boas atuações e vale pela dúvida que vai colocando no espetador. No entanto, ao abusar dessas dúvidas quase perde a sua audiência, especialmente quando também derrapa no ritmo apresentado.