Um… (filme que introduz alguns tópicos de discussão porque sim, como se não acreditasse na sua mensagem). Dois… (personagens com princípios e objectivo em comum mas com arcos que se entrelaçam sem nunca se tocar). Três… (estrelas de classificação, como aquele lanche que se come para ter espaço para jantar).
Jerrod Carmichael estreia-se a realizar este filme que conta a história de dois amigos que planeiam matar-se mutuamente já que cada um falhou nisso de forma miserável individualmente.
Christopher Abbott é o amigo Kevin e co-protagonista com Carmichael como Val.
1 hora e 26 minutos de rodagem é o tempo que reservam para passar o último dia vivos, revelando as suas infâncias tumultuosas, o ponto de situação das suas vidas no presente e porque querem deliberadamente terminá-las.
A filmografia remete a uma carga pesada e emocional a mais que as quebras comédicas que se perdem nas cenas porque há um notório esforço em que as piadas não sejam forçadas. Apesar deste filme ser vendido como comédia dramática, isto claramente é um drama reflexivo com piadas entre dois amigos que se conhecem muito bem e se suportaram mutuamente pelo que cada um passou. Reconheci isso bastante bem e de forma praticamente instantânea, mas não me ri uma única vez. Confiro tal particularidade ao que o filme me dá, acima de qualquer rótulo comercial.
A sonografia não é tensa nem é a mais paradoxal face à temática. É usada muitas vezes como piada recorrente que bate na trave, como dispositivo meta farsola – a música do filme às tantas é a música no filme, etc. Isto adensou-me o sabor a “meh” de todo o filme.
“Meh” é, talvez, a melhor descrição deste filme e não encarei isso como necessariamente mau. A depressão profunda não é a tristeza que uma pessoa sente pela vida ou por acontecimentos isolados ou conjuntos que a façam sentir-se assim. A depressão profunda, clínica, química é um estado potencialmente irremediável de “meh” perante a vida.
A representação de Kevin e Val, apesar de apenas satisfatória, foi excelente a estabelecer esse tom, por perspectivas diferentes. Isso foi interessante porque não foi explícito, expositivo ou levado à minha boca como espectador. Isso é interpretável, observável durante o filme e mesmo reflexível após ver o filme, como é o caso deste texto que surge depois de dormir sobre o assunto.
Ainda sobre a representação, não gostei da introdução de temas extra-enredo polvilhados pelos protagonistas, poluíndo este filme que se suporta neles e não necessariamente num enredo para além deles.
Kevin, mostra-se diametralmente preocupado com coisas apesar da sua catatonia depressiva que resulta sempre em pensar no fim da sua vida. Culpa do guião que lhe meteu as palavras na boca. A bota não bateu com a perdigota e eu vi e não subscrevo.
Val, é o espelho de Kevin, ao se apresentar permanentemente cínico perante a vida, estilhaçando repetidas vezes essa postura para expor as suas conclusões mais vagas sobre o que entende de certa coisa que lhe aconteceu, acontece ou viria a acontecer, no cômputo geral da existência. Decidam-se.
No final do dia, este filme não me aqueceu nem me arrefeceu.
A perspectiva apresentada sobre suicídio é interessante porque não é um tema-alvo de grande exploração no cinema mas não me moveu nenhuma agulha a mais do que eu já teria contemplado na minha própria reflexão e conversas com outros sobre o assunto.
A saúde mental é outro tópico pincelado que não teve grande exploração, o que não me arreliou por parca nem me satisfez por ter percebido que o tom do filme revolveu mais sobre o passado que passou e aconteceu. Face a isso, o que se faz agora? Consuma-se o fim.