Operation Mincemeat é profundamente britânico. Isso claro que é visível pela história que conta – uma das mais importantes e cruciais vitórias das forças britânicas na 2ª Guerra Mundial – e pelo elenco que apresenta, com gigantes como Colin Firth, Jason Isaacs ou Penelope Wilton a comandar as tropas, mas é ainda mais claro pela forma como nos conta esta história: de um modo bastante tradicional e típico da indústria desta nação europeia.
Assim sendo, esta é uma história de guerra que se foca muito mais nas pessoas e nas suas várias dimensões do que propriamente no feito histórico que pretende analisar. Isso para mim não encapsula qualquer problema. Eu sei que se isto fosse americano veríamos mais explosões, mais cenas de tensão introduzidas para tornar o produto mais cinematográfico e, muito provavelmente, iria fugir bem mais ao real acontecimento. O problema dá-se quando não é apenas isso que este filme apresenta como tradicionalmente britânico. Há uma excessiva procura pela dramatização de histórias pessoais e uma obsessão por histórias paralelas, envolvendo pares ou trios amorosos, elementos que funcionam muito bem na televisão britânica – para quem se queixa da duração de algumas novelas portuguesas, talvez fizesse falta acompanhar muita da produção britânica para a televisão – mas que têm dificuldades em fazer sentido na versão mais compacta exigida pelo formato cinematográfico.
Para quem não conhece esta operação, basta dizer que os nazis levaram uma valente lição de humildade e de inteligência militar, não procurando entrar em grandes detalhes da trama. O primeiro ato de Operation Mincemeat usa e abusa de uma excessiva exposição no diálogo, aliando isso a um excessivo uso…do diálogo em si. Resumindo, não é do mais excitante de se assistir. Percebe-se que seja preciso enquadrar-nos com uma história de guerra – a guerra escondida, a guerra dentro da guerra – que poucos conhecem a fundo, mas não era necessário que o fizesse com tantas outras intriguices e histórias adjacentes que muito pouca importância têm para o desfecho da operação. Claro que há momentos de grande qualidade e o filme vai subindo de valor – aumentando também o nosso interesse – na reta final quando nos consegue prender de forma a percebermos como isto tudo resultou – a verdade é que eu, como ignorante, nem sabia se tinha resultado!
John Madden é um realizador com provas dadas – Shakespeare in Love, Proof, Miss Sloane… – e é por isso surpreendente como quase se deixa levar em demasia pelo melodrama e pela procura pela lágrima fácil. Mas é salvo. É salvo primeiro pelos excelentes valores de produção, que – como habitual em obras britânicas – nunca desiludem. Mas é salvo principalmente pelo excelente leque de atores. Colin Firth, por exemplo, faz aquilo que tão bem sabe fazer e que até já lhe valeu um Óscar: o homem que tem que salvar o dia sem ter muitas certezas de ter o que é preciso para o fazer. Jason Isaacs é credível como o Almirante que duvida de toda esta operação militar e cumpre, como sempre, com o que dele se espera. Penelope Wilton é a experiente força da razão que enche a sala de moralidade e Kelly Macdonald dá toda uma profundidade a uma personagem que nos enche a todos de vontade de a ver suceder. É, no entanto, Matthew Macfadyen que rouba quase toda a atenção, com uma prestação hipnótica e honesta, onde percebemos todas as suas dúvidas, convicções e conflitualidades, permitindo-nos colocar, várias vezes, num difícil papel.
Operation Mincemeat é um bom filme quando quer ser um filme sobre espionagem de guerra e sobre uma fantástica operação que apenas resultou fruto de uma inteligente estratégia e também de muita sorte. É pena é que isso seja várias vezes colocado de parte para apostar numa história romântica paralela com muito pouco interesse. O excelente elenco salva o dia.