Paixão. Um sentimento efervescente, explosivo, que transborda, reverberando impulsividades e imprudências. Thomas (Franz Rogowski) apaixona-se por uma mulher, e entrega-se perdidamente, apesar de seu marido, ou quaisquer que sejam suas reações a isso.
Desejo. Incontrolável, pulsante. Capaz de corromper a moral e desnortear o juízo. Faz de Thomas um tolo, refém da impulsividade que intoxica a tudo e a todos à sua volta, assim como a si mesmo.
Ego. Aquele que está acima de tudo. Que engana Thomas e o faz acreditar que deseja estar com alguém por quem tal pessoa é, enquanto, na verdade, o que o move é a ideia de ter tal pessoa para si. Thomas pode se enganar o quanto quiser. O eu é o que importa, afinal.
E quanto ao amor. Ah, esse fica para trás. Escanteado, esquecido. Confundido com a paixão, que é insuficiente e imatura. Contornado pelo desejo, que entorpece e confunde. E afogado pelo ego, que, bom, sufoca todo o resto.
Mas Thomas encanta. Seu sexo é caloroso e voraz. Poucas personagens garantiram ao cinema cenas tão carnais e apaixonadas quanto ele. Sua lábia é cínica, porém envolvente, tentadora. Thomas é um manipulador nato. Não há psicológico que não sucumba, ou coração que não estilhace ao conviver com ele. Marido, amante, sogra. Qualquer um que cruze o seu caminho, e permaneça tempo suficiente próximo de si, sai da experiência abalado, exausto.
Passages (Passagens) é como seu protagonista. Envolvente e apaixonante, mas psicologicamente frustrante. Um excelente estudo sobre desejo e egocentrismo. A história de um triângulo amoroso quente e complicado, que excita e machuca. Um emaranhado de romance e tesão em que o eu parece ser o centro de tudo, sempre, e o amor é deixado de lado, uma mera desculpa, usada para justificar ações egoístas.
O filme é ótimo, e Thomas, com todo o calor que sua presença emana, é fascinante.