Decisões tomadas, caminhos traçados. O que fica para trás são possibilidades. Possibilidades inalcançáveis, irrecuperáveis, que existem apenas no campo das ideias. Eternas, imprevisíveis e torturantes. “Se”, apenas.
Past Lives (Vidas Passadas) é uma grande e sensível história de romance, que de fato não é. Uma odisséia em que perdura o eterno conflito entre o que é e o que poderia ser. No centro desta grande jornada emotiva, duas vidas que provam intensamente da ingratidão do destino, entidade fadada à eterna insuficiência.
Uma amizade fundada na Coreia do Sul. Um parte, o outro fica. Anos se passam, décadas. Ao passar desses anos, reencontros acontecem. Ansiosos e breves. Espaçados por enormes hiatos de tempo, prolongados por inseguranças, que podem ser lidas, aqui, como barreiras, que visam impedir que o que machucou antes, venha a machucar novamente. A vida segue, e se segue vivendo. Rotas são traçadas: profissionais e emocionais. Toda uma existência é significada através de decisões tomadas e destinos aceitos. Quanto mais se avança, mais distante se fica do que foi deixado para trás. E mais se frustra. E mais dói.
Past Lives é singelo. Simples em composição, mas complexo emocionalmente. Uma experiência impactante, que te conduz com sinceridade e serenidade através de quadros e sonoridade pacientes, leves e calmos, mas que arrasa qualquer alma sensível o bastante para perceber que a obra não fala apenas de suas personagens, mas sim, de todos nós. Tenha vivenciado um grande romance passageiro ou não, qualquer um deixa um rastro de possibilidades inquietantes, que para sempre devem torturar suas emoções, e providenciar encontros marcantes com a melancolia. É assim que as coisas são. Lidemos com isso.
Há escolhas, há inevitabilidades, há arrependimentos, e há beleza em tudo isso. Tamanha complexidade só poderia ser retratada, em toda sua potência, com simplicidade. Past Lives impacta profundamente, e assim o faz, pois decide nos tocar com sinceridade e delicadeza. Toda escolha é uma renúncia, e suas consequências sempre são agridoces. O que não foi, poderia ter sido, e o que é, poderia não ser. Não é fácil, mesmo. Mas é o que é.