Nicolas Cage já passou por várias etapas na sua carreira de ator. Se quem cresceu durante a década de 90 irá sempre pensar nele com o carinho e respeito que obras de ação como Face/Off – de John Woo – ou The Rock – de Michael Bay – merecem, nunca esqueceu também que ele passou grande parte dessa década a trabalhar com outros gigantes como Martin Scorcese, David Lynch ou Brian de Palma, procurando sempre um equilíbrio entre o cinema de autor e o cinema mais comercial, sendo muito prolífico em ambas as vertentes. No início da década seguintes, associou-se a nomes como Spike Jonze, Oliver Stone, Ridley Scott ou Gore Verbinski até que…virou uma fonte de memes e piadas. O mundo até já tinha esquecido porque é que amava Nicolas Cage e este não parecia ter qualquer problema em entrar em tudo quanto fosse produção barata e de qualidade bastante duvidosa. Agora, chega o tempo do ator fazer um balanço desse tempo e é dessa forma que este The Unbearable Weight of Massive Talent deve ser encarado: como uma celebração, mas também como uma auto-análise.
Nesta produção, Nicolas Cage vive…Nicolas Cage. Sabemos como o discurso meta está na moda e nada melhor do que trazer o próprio para relembrar-nos do quão bom ele sempre foi, mas também para reconhecer que se meteu onde não devia, sendo que o seu escape para os vários problemas financeiros foi entrar em tudo o que era filme para receber o seu cachet e partir para outra. Neste filme, Cage aceita a proposta de um fã rico que o convida para a sua festa de aniversário. Esse fã – Javi Gutierrez, vivido por Pedro Pascal – tem estado a ser investigado pela CIA e, sem ter feito muito por isso, Cage acaba por se ver embrulhado numa trama de espionagem, ao mesmo tempo que redescobre, ao lado de Javi, porque é que a sua carreira é importante para ele e para todos nós.
A dupla Cage-Pascal funciona bastante bem. A maioria dos melhores momentos do filme dá-se quando os dois estão juntos e reúnem todas as atenções, ficando eu até curioso em saber que proporção daquele diálogo terá sido improvisado. E eu disse “a maioria” porque não posso esquecer as cenas em que Cage fala com o seu alter ego, o Cage louco, arrogante, a rock star que quer continuar a viver como sempre viveu: com o mundo a seus pés! Muitas das passagens mais engraçadas do filme surgem nessas cenas e há falas que irão com toda a certeza fazer as delícias dos internautas durante os próximos anos.
Este louco guião que envolve não só a CIA e grupos mafiosos, mas também a criação e escrita de um guião em tempo real é-nos apresentado de uma forma leve, mas, por vezes, pouco focada. Em certos momentos, o filme apresenta problemas a balancear os elementos de comédia com os elementos mais introspetivos que o mesmo quer abordar – como a carreira e as escolhas de Cage afetaram e afetam todos à sua volta, começando pela família mais próxima – e, embora eu perceba o que se quis fazer, não estou seguro que isso fosse exatamente o que eu pretendia ver na obra em causa. Além de toda essa forçada vertente pessoal, há também toda a trama que envolve a CIA e o controlo de políticos por parte de cartéis ou grupos mafiosos que parece também colada a cuspo, uma vez que no que todos nós continuamos muito mais interessados é na dinâmica Cage-Pascal.
No que diz respeito aos elementos técnicos, o filme raramente falha, mas também tem alguma dificuldade em se elevar. A nível sonoro o trabalho é bom – embora, por vezes, demasiado preso à época que pretende homenagear – e a nível visual, os efeitos são satisfatórios. No entanto, fico com a sensação de que nas mãos de outro tipo de cineasta, várias cenas poderiam ter sido filmadas e editadas de um modo bem mais criativo e desafiante. De uma forma geral, The Unbearable Weight of Massive Talent dá-nos o que promete: Cage a ser Cage. A história é fácil de se seguir e as várias referências à sua carreira deixam-nos com um grande sorriso na cara. Ainda assim, confesso que com este argumento e com este elenco, esperava ter-me rido mais vezes e contava com algo muito mais louco.