Falta magia e entusiasmo a Peter Pan & Wendy

Há quem não entenda a obsessão da Disney em transformar todos os seus grandes sucessos de animação em live-action, muitos deles com pouco ou nada a acrescentar. A verdade é que não é difícil de entender. A Disney joga com a nostalgia e sabe que muitos dos que cresceram com estas histórias irão sempre espreitar um novo filme. Ao mesmo tempo, sabem que são títulos que resultarão bem no seu serviço de streaming, pois é fácil colocá-los a rodar enquanto se apresentam estas histórias a novas gerações. Com este Peter Pan & Wendy, a Disney nem se preocupou com um lançamento no cinema. No entanto, preocupou-se em trazer alguns nomes sonantes como Jude Law no papel de Capitão Gancho e David Lowery como realizador. Lowery é mesmo uma escolha inesperada, pois os seus dois filmes anteriores – The Green Knight e A Ghost Story – foram filmes com uma toada bastante alternativa, com o condão de agradar a um público mais de nicho e a críticos do que às massas.

Devido a isso, confesso que tinha alguma curiosade em ver o resultado final, mas rapidamente constatei que este é um daqueles casos de realizadores que de forma a financiarem os seus projetos de coração, sabem que também têm que dar algo em troca a grandes estúdios: a estratégia “um para vocês, um para mim”. Não é que o estilo de Lowery não se note nesta versão de Peter Pan. Nota-se principalmente em termos visuais, na forma como a câmara se movimenta, na forma como aproveita paisagens largas e imponentes e também na forma como foca e aproxima a câmara em cenas mais intimistas. É um filme bonito, sem dúvida, e tem também uma adequada banda-sonora a acompanhar. No entanto, a história e a sua condução é preguiçosa e pouco excitante. Recuando a 1991, pode-se acusar Hook, de Steven Spielberg, de muitas coisas, mas nunca se poderá dizer que não diverte. O mesmo não posso dizer deste filme que, assim que passa o entusiasmo de ver como isto é tão bem filmado, começa a sentir-se um certo cansaço e a apatia toma conta de nós, tal como de tudo o que se passa no ecrã.

Aqui e ali o filme é salvo – para além dos bons valores de produção – por uma boa atuação de Jude Law. Não, ele não faz esquecer Dustin Hoffman. Mas é um Capitão Gancho diferente, mais pessoal, com uma boa história de base que faz entender melhor algumas das suas motivações, sem esquecer o seu lado louco e espalhafatoso. Isto contrasta com o resto do elenco que rapidamente se esquece. Ninguém está particularmente mal – Ever Anderson como Wendy é a melhor – mas também não há muita coisa que fique na retina e da qual nos vamos lembrar nos próximos dias. Quem mesmo é que foi Peter Pan? Se o vir na rua amanhã, provavelmente, não o reconhecerei. 

O terceiro ato recupera alguma da chama inicial e traz, com boas cenas de ação, lições importantes, chegando mesmo a dar-nos algumas novidades em relação à história animada que conhecemos. Ainda assim, quando chega a esse momento o filme já nos perdeu com o seu segundo ato pastelão e demasiado fechado sobre si mesmo para o tipo de história que as aventuras de Pan permitem. É um filme que não envergonha ninguém e é bem filmado. No entanto, falta magia, é demasiado contido e Lowery tenta demasiado navegar entre a sua veia artística e um projeto para uma audiência mais jovem e generalista. É demasiado sombrio e pouco entusiasmante para convencer os mais novos. Demasiado infantil e preguiçoso para convencer os fãs do realizador. Jude Law tenta salvar tudo com um bom Capitão Gancho.


Peter Pan & Wendy

ANO: 2023

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 106 minutos

REALIZAÇÃO: David Lowery

ELENCO: Jude Law; Alexander Molony; Ever Anderson; Yara Shahidi

+INFO: IMDb

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