Prisoners of the Ghostland mistura samurais, zombies, fantasmas e testículos explosivos

Sion Sono é um dos meus realizadores favoritos. O génio japonês é conhecido por fazer de tudo um pouco, sendo que é capaz de obras reflexivas e calmas – como The Land of Hope ou Himizu – mas também obras alucinantemente fora do vulgar, como Tag ou Why Don’t You Play in Hell. Pelo meio tem thrillers de reconhecido valor – Suicide Club, Cold Fish ou Guilty of Romance – e uma épica obra-prima de quatro horas, chamada Love Exposure. Curiosamente, identifico-me com quase todas as suas facetas e estimo bastante praticamente toda a sua obra.

Quando o seu nome foi associado ao de Nicolas Cage, na sua primeira produção maioritariamente em língua inglesa, fiquei obviamente entusiasmado. Sabia que isso só poderia significar o Sono mais louco que teria aqui a oportunidade de trabalhar com um dos atores mais requisitados do momento por tudo o que é produção excêntrica. E a panóplia de temas que Prisoners of the Ghostland tenta incorporar é digna destes dois senhores. Na história, um assaltante de bancos – Cage, sem nome, tratado por “Hero” – é libertado da prisão pelo governador da cidade de Samurai Town (Bill Moseley) com o intuito de encontrar Bernice (Sofia Boutella), a filha do governador, que está desaparecida. Claro que o governador não confia a 100% na personagem de Cage e então cria um dispositivo que, vestido pelo “Hero”, se auto-destruirá caso o nosso herói e Bernice não estejam de volta em cinco dias. O dispositivo é altamente sofisticado e até envolve alguns avisos quando deteta um comportamento mais errático de “Hero”, sendo que dois desses avisos estão conectados aos…testículos da personagem, que explodirão se passar das marcas!

Claro que de uma trama destas não se pode esperar nada demasiado sério. Obviamente que a intenção não é a de ser levado a sério e sim de nos fazer passar um bom tempo. A juntar a tudo isto, temos um guião que ainda envolve samurais, zombies, ninjas, bombas atómicas e um cenário pós-apocalíptico à lá Mad Max. Sono incorpora também vários elementos da cultura japonesa, utilizando bastantes coreografias – a forma como é contada a explosão e a fuga de certos prisioneiros é absolutamente sensacional – e dando-nos vários elementos propositadamente exagerados de expressão visual e sonora. A fotografia é um dos pontos fortes deste filme, com cores bastante vivas – aproveitando-se também do excelente guarda-roupa e maquilhagem – sendo estes aspetos os melhores de toda a carreira do realizador japonês.

No campo das interpretações, Cage não se parece esforçar muito para deixar de ser Cage, fazendo o mesmo papel que tem feito na grande maioria das produções dos últimos anos, quando abraçou este estilo mais camp. Apesar de alguns momentos geniais que, certamente, virarão meme – principalmente, quando grita pelos seus testículos – parece que Sofia Boutella se esforça mais para dar uma maior profundidade à sua personagem, procurando deixar de forma clara as suas motivações e os seus sentimentos.

Estruturalmente, o filme tem problemas. É certo que Sono está habituado a misturar muita coisa nas suas obras e já o fez muito bem – Love Exposure é um dos meus filmes favoritos e mistura cultos religiosos, relações familiares, depravação sexual e amor – mas aqui nem ele consegue salvar um argumento que se nota que não foi escrito pelo próprio (algo não habitual na sua carreira). O filme tem sérios problemas de ritmo – principalmente no segundo ato, o mais fraco – e até chega quase a aborrecer, o que não entrava nas minhas contas tendo em conta o nível de absurdo que esperava ver. A sensação que fiquei ao ver o filme é que tenta em demasia ficar entre um western americano, um filme de samurais e um filme pós apocalíptico, agradando em simultâneo a duas diferentes culturas que nem sempre se conjugam assim tão bem.

Em resumo: testículos explosivos, fantasmas, samurais, zombies, ninjas, bombas atómicas, assaltos a bancos e um cenário pós-apocalíptico. Se vão para um filme com tudo isto e procuram lógica, irão sair desapontados e a apontar todos os defeitos. Se forem preparados para se divertir a ver algo diferente, Prisoners of the Ghostland cumpre os serviços mínimos e satisfaz na diferença. Ainda que conte com todos estes elementos, considero que a abordagem de Sono é demasiado louca para quem não é seu fã e pouco louca para quem o é, tentando agradar a gregos e troianos, o que acaba por fazer disto um copo meio cheio.


Prisoners of the Ghostland
Prisoners of the Ghostland

ANO: 2021

PAÍS: Japão, EUA

DURAÇÃO: 103 minutos

REALIZAÇÃO: Sion Sono

ELENCO: Nicolas Cage, Sofia Boutella, Bill Moseley, Nick Cassavetes

+INFO: IMDb

Prisoners of the Ghostland

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