Reptile (ou a bola colada aos pés da narrativa com o adorno inato da edição)

Benicio del Toro está em topo de forma. Grant Singer tem uma excelente estreia a realizar e co-escrever.

Mais uma trama de crime de alta qualidade. Mais um acerto da Netflix.

Uau.

A escalada de tensão está excelente.

A edição e filmografia estão afinadíssimas. Nota-se que o garoto destas andanças Grant Singer veio de realizar videoclipes. Há um par de sequências “percussionadas”. Há outro par de sequências claramente musicais cujo metrónomo é o batimento cardíaco do espectador.

A narrativa é explorada de uma forma não-diferente, mas não flagrante. Não original, mas não gratuita.

À medida que o filme nos dá elementos para nós começarmos a resolver a trama, há 5 curvas à esquerda que nos visam toldar a orientação ao pensarmos que dali vamos para a direita, mas na verdade, se contarmos, 5 esquerdas são 1 esquerda, para quem vai em frente.

Há uma tendência do que tenho vindo a reparar dos filmes recentemente. Já não há segundo acto. Há sim um acto transitório de comprimento variável entre o primeiro acto (que normalmente visa estabelecer o universo de personagens, suas relações, a narrativa que as une e transporta o desenrolar do filme para a frente) e o terceiro acto (que tende para “resolver” o filme, as questões que são levantadas no tal primeiro acto e adensadas ou clarificadas no pretenso segundo acto).

Mas não há mal. Tal como defino que o AI não é o advento do fim da eterna variável da existência humana mas sim a “ferramentação” que, para bem e mal, visará facilitar existirmos como pessoas, defino que esta fluidez não-trinária de actos não prejudica nem beneficia. É apenas diferente. E diferente é bom quando fundamental e consequentemente agrega à obra, à experiência, à apreciação.

E apreciar é preciso. Benicio del Toro deve estar no meu top-3 de actores que melhor representam sem dizer nada. É sublime ver este senhor neste Reptile. A sua esposa interpretada por Alicia Silverstone é fortíssima no suporte de todas as coisas que a personagem de del Toro deixa por dizer ou entender. Remete-me ao ponto anterior que o filme não dá, oferece, propõe, sugere.

Domenick Lombardozzi é excelente já deste The Wire, nunca me enganou. Ele destaca-se ligeiramente dos demais que me fizeram crer desde o primeiro minuto que são mesmo todos agentes das forças de polícia daquela terra. Que deleite.

Justin Timberlake foi suficiente para o que lhe fora pedido para interpretar.

Talvez ajude que a sua voz finalmente esteja com o timbre de um garoto pós-pubescente nos seus 16 anos e não creio ter sido por acaso a escolha dele como solteirão desejável herdeiro de um império imobiliário, mas mais realista que sexy.

Netflix a apostar de forma francamente segura pelos créditos de quem apadrinha este filme (Benicio del Toro também é produtor executivo e co-escritor) e, tão seguramente, acertou no produto final.

Esta estrada sinuosa de serra que todos sabemos terminar no cume dá agradáveis alterações de pavimento, espirais de curva que quase nos despistam para trás, mas igualmente nos guiam ao sucesso da viagem.


Reptile
Reptile

ANO: 2023

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 134 min.

REALIZAÇÃO: Grant Singer

ELENCO: Benicio del Toro, Alicia Silverstone, Justin Timberlake, Eric Bogosian, Domenick Lombardozzi

+INFO: IMDb

Reptile

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