A estratégia de distribuição da Sony foi estranha. Tão estranha que muitos nem se terão apercebido de que um dos videojogos mais populares da história estava de volta aos cinemas, numa versão nova, um reboot, esquecendo todas as aventuras cinematográficas anteriores. Sim, leram bem. Milla Jovovich já não faz parte da saga, nem a ação frenética ou banda sonora – que misturava metal e eletrónica – a acompanhar. Isto é um Residentil Evil mais de terror do que de ação. Mas que tal correu?
Antes de mais, devo dizer que considero ser este o tom certo para um filme de Residentil Evil. Deve ser um filme de terror, deve ser um filme assustador e não um filme onde apenas nos importamos com imaginativas mortas ou com espetaculares movimentos acrobáticos por parte da protagonista principal. De forma a que isto resultasse, foi trazido Johannes Roberts para a realização (provavelmente, não a escolha mais apelativa), e um elenco interessante composto por nomes como Kaya Scodelario, Robbie Amell ou Tom Hopper, não atores de primeira linha, mas todos eles com créditos firmados em Hollywood.
A obra põe-nos de imediato na noite onde tudo irá acontecer. Poucos minutos depois de termos uma boa introdução das personagens que vamos acompanhar, entre momentos na carrinha com Claire ou no bar com os restantes elementos, um alarme ecoa por toda a Raccoon City, pessoas começam a apresentar estranhos comportamentos e, quem parece ter conhecimento de algo mais, quer pôr-se dali para fora o mais rápido possível. E aí, quando as coisas deveriam aquecer, elas tornam-se escuras, confusas e com pouco desenvolvimento. A opção de termos a ação imediata é interessante, mas falha como primeiro filme de uma nova franquia onde nos devemos interessar pelas personagens de forma a que nos importemos com elas. A opção de tornar tudo escuro – além de escura, a fotografia parece procurar cores esbatidas, provavelmente para nos colocar no passado – e ficarmos demasiado tempo nos corredores – primeiro da mansão Spencer e depois no orfanato – é interessante para fazer várias referências aos jogos originais, mas falha porque não nos conseguimos aperceber de muito do que acontece, não sentindo qualquer tensão. Resultado: tudo o que deveria deixar-nos excitados, deixa-nos…sonolentos.
Com tudo isto não quero dizer que não há bons momentos. Há. Principalmente quando revemos velhos conhecidos, quando vemos a história a ser contada num inspirado – e reconhecível – vídeo e quando temos um final à medida daquilo que a série deve ser, com uma interessante batalha final e a deixar-nos a querer que façam algo mais com estas pessoas. Sim, porque no meio de tudo e com um fraquíssimo guião – e um diálogo atroz – para trabalharem, estes atores até parecem ser os atores certos para que nos voltemos a interessar pela saga. As suas caras parecem, por vezes, gritar “nós queríamos fazer mais, mas foi isto que nos deram!”.
Acima de tudo, Resident Evil: Welcome to the Raccoon City é algo que sabe a pouco. É como aquele jogador de futebol que tenta dar uma grande finta quando entra em campo, faz levantar o olhar do espetador, mas depois logo desaparece. Acerta, pela primeira vez, no tom de terror que um filme da saga deve possuir. Infelizmente, parece demasiado obcecado com referências ao material original e pouco interessado em nos dar um interessante e consistente filme.