Retfærdighedens ryttere (título original dinamarquês de Riders of Justice) é mesmo o que se catalogou: uma comédia dramática de acção. Dura menos de 2h como é apanágio dos filmes de agora. Os vilões existem quase irrelevantes. Essa é a primeira pista para a resolução da tese levantada pelo enredo que à primeira vista é simples e directo. Foi brilhante o quão inócua se obteve a exposição, profundidade narrativa e ritmo quando a história é possível de ser contada em formato de anedota de café em menos de 3 minutos.
A COMÉDIA: As piadas são cruas no seu tom, orquestradas sem a típica fórmula de premissa-desenvolvimento-punchline. São fruto das personalidades, acções e diálogos entre os protagonistas. São entregues com uma naturalidade altamente credível porque não fazem coçar a cabeça pelo rebuscamento ou passam atestado de estupidez pela obviedade e excesso de ridículo. Tudo tem um propósito. Tudo está harmonizado entre pessoas díspares no mesmo espaço de cena. Uns são mais engraçados que outros, o que é normal, mas aqui sentiu-se natural. O espaço de cada um que atrai mais risos que outros não ofusca. É o resultado do contributo. O menos engraçado de certa cena assim o é por serviço à cena. Há uma fundamental missão entre todos de que o filme está acima de qualquer um.
O DRAMA: Mads Mikkelsen é a personificação dinamarquesa de vinho. Só melhora com a idade e a cada papel que se debruce com maior seriedade, o sabor intensifica e impregna. Por favor não se baseiem em Dr. Stranges ou Michael Kohlhaases como barómetro. Um actor tem tanto direito em interpretar papéis inesquecíveis como em perseguir o cheque que lhe permita tal conforto para mais altos voos. Aqui Mads faz escolhas de interpretação ao nível mestre pois a sua personagem, apesar de profunda q.b., não é muito explorada no “porquê?” mas antes no “e agora?”. Ele é o elemento que se apropria mais da carga dramática do filme e depois da carga física do mesmo por ser o soldado regressado de inúmeras campanhas militares até ter de lidar com o incontornável problema caseiro. De poucas palavras, o seu diálogo é sempre à medida do enredo e interações. Os restantes co-protagonistas não fogem a esta responsabilidade, porém é-lhes incumbido o papel dramático em segunda instância dado que as suas responsabilidades humorísticas são o sal que este bife da vazia precisa para ser algo mais que simplesmente suculento. Menção inevitável para Lars Brygmann como Dr. Lennart que tanto tem de engraçado como de perturbado, como de milimetricamente medido nessas amostras para se digladiar sem esforço nenhum com o restante elenco pelo título de “actor do caraças! Mas quem é este gajo?!”.
A ACÇÃO: A humildade deste filme confere realismo, tensão e compenetração por parte do espectador. Os momentos de acção são como os momentos de comédia e os de drama: servem o filme. O enredo mete balas aqui porque tem de meter. Mete combate corpo-a-corpo ali porque casuisticamente é o que faz sentido. Mete análise e abordagem realistas acolá porque é passível de ser real. Porque é o que o filme pede. Porque é o que se estima da progressão da história quando tais elementos são apresentados, é estabelecido o tom e há a confiança do espectador em entrar nesta viagem como se fizesse parte dela com as personagens. Todos fazem a sua parte. Discutivelmente a acção é o que menos ocupa o filme, sendo ele de acção mas ela é tão importante quando e como aparece que é mais valorizada assim. É uma forma diferente de contar uma história onde a acção/violência/fisicalidade são integrantes, porém não têm de ser o objectivo ou o enjoativo fio condutor de uma história que ressoa acima disso. 4 estrelas a estes meninos, para ontem!