RRR é uma exuberante experiência sensorial

Quem decidiu que o cinema deve seguir determinadas regras e estrutura? Quem decidiu que a busca pelo realismo torna um filme num produto mais ou menos competente? Quem decidiu que todos devemos seguir os padrões ocidentais de blockbuster?

RRR desconstrói muitas dessas assunções a partir da sua segunda cena. Se na introdução vemos uma menina a ser cruelmente raptada pelo regime opressor britânico o que, infelizmente, até tem bem mais de realista do que gostaríamos…a segunda cena somos atirados para o centro de uma manifestação popular onde um polícia luta – sem qualquer exagero – com várias dezenas de manifestantes em simultâneo, saindo ileso e com menos ferimentos do que todos os outros! Faz isto algum sentido? Agora há humanos com poderes? Nada disso importa. S. S. Rajamouli é conhecido pelos seus filmes estilosos e pelos seus exageros. É a sua marca, é para isso que as pessoas pagam. O seu público quer a exuberância, quer o irrealismo, quer a impossibilidade. E quer ter diversão. Muita. E são recompensados.

Nas suas três horas de duração – onde nunca, por um momento, o filme cansa ou nos perde – somos violentados sensorialmente por uma obra monumental que nunca se contenta pelo meio-caminho. Há elementos que não funcionam em RRR. Um dos subplots românticos nunca resulta, os diálogos dos atores ocidentais são aberrantes e há momentos tão azeiteiros que nos fazem querer revirar os olhos. No entanto, logo a seguir somos confrontados com mais uma cena over-the-top, onde o impossível acontece, onde dois homens parecem mais poderosos do que Thanos e onde tudo é filmado de um modo tão claro e tão detalhado que apenas nos podemos render, pois finalmente nos é mostrado como combates e cenas gigantescas de luta não têm que ser puzzles por decifrar. Afinal é possível vermos tudo o que se passa no ecrã, uau!

A história de RRR – que inclui alguma controvérsia, pois parece que estes tais bons da fita nem sempre foram assim tão bons ao longo da história local – gira à volta de conflitos de determinados povos locais com os arrogantes opressores britânicos. E como estes últimos são detestáveis…cada vez que um destes opressores sofre às mãos de uma das nossas personagens, todos nós festejamos! Torcemos por eles, estes são os nossos Vingadores! A história tem drama, tem emoção, tem traições, amizade e irmandade em igual medida e, embora por vezes nem sempre seja claro, no final tudo faz sentido.

Do ponto vista visual, a maioria dos efeitos especiais resultam bastante bem e encaixam no look bem cartoonesco da obra. O exagero de cenas em slow-mo pode cansar, mas a fotografia é tão bela, tão colorida e tão polida que o resultado final é um dos mais impactantes que vimos nos últimos tempos. A nível sonoro, RRR é também um monstro. A escolha musical é muito forte – sim, alguns números musicais cá estão e funcionam bastante bem, com danças entusiasmantes e divertidas – e toda a composição sonora dá ao filme a exata componente épica que este exige.

RRR é um blockbuster épico em todas as vertentes. É um filme culturalmente importante que eleva o irrealismo dos filmes-pipoca para patamares pouco usuais para um espetador ocidental. Visualmente deslumbrante e com uma história familiar, diversão é coisa que nunca falta por aqui.


RRR
RRR

ANO: 2022

PAÍS: Índia

DURAÇÃO: 187 minutos

REALIZAÇÃO: S.S. Rajamouli

ELENCO: N.T. Rama Rao Jr.; Ram Charan; Ajay Devgn

+INFO: IMDb

RRR

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