Filmes que abordam a temática da parentalidade confrontando-a com traumas passados não são algo propriamente novo. Há clássicos incontornáveis, mas nos últimos anos é The Babadook que marca as referências do subgénero no terror. Acontece que isso poderá não ser uma boa notícia para todos os que querem replicar muito do que este faz, pois algo de novo terão que trazer para cima da mesa.
Run Rabbit Run tem um ato introdutório interessante. Há um mistério que rodeia um animal (adivinhem qual!) que insiste em ficar na casa da família que seguimos, há uma mãe que parece perder a paciência com facilidade, há uma criança que se fascina com algo da qual a mesma não deveria ter conhecimento e há uma tragédia do passado não falada. O set-up é bom e boas atuações estão garantidas, porque no papel de Sarah, a mãe, está Sarah Snook, uma das estrelas de Succession.
Isso só, no entanto, não chega. O clima de slow burn é bem construído, mas é capaz de frustrar qualquer espetador que se aperceba que a sua repetição faz com que nada esteja a queimar a não ser o nosso tempo. O segundo ato é pastelão, arrastando-se na mesmice de sempre e conseguindo até que Sarah Snook não saia da mesma nota. Quando as conclusões se apresentam no terceiro ato, já nós tivemos tempo para pensar em tudo e já pouco nos surpreenderá, tendo pouco impato sobre o espetador.
Tecnicamente, as tonalidades sombrias adequam-se ao género e temáticas abordadas e há belos cenários a serem explorados, seja em espaços interiores ou nos amplos campos e terrenos exteriores. Apresenta várias características que deveriam resultar do ponto de vista da atmosfera criada, mas nem resulta como drama – pois o seu comentário não é assim tão profundo – nem como terror psicológico, nunca elevando os níveis de tensão em cena. Trata de temas importantes e até faz coisas interessantes na sua abordagem ao luto, ao trauma e ao sentimento de culpa, mas repete o mesmo tanto até à exaustão que até a intensidade do que diz se reduz a pouco.
Estreou no Festival de Sundance e é difícil explicar o que a Netflix viu nele para o adquirir. Sarah Snook tenta, o ato introdutório é prometedor, mas a trama nunca desenrola, tornando-se num previsível festival de repetição e aborrecimento que nunca chega a surpreender. Tinha potencial para muito mais.