Rustin enfrenta o preconceito e a injustiça com inabaláveis determinação e carisma!

Há filmes que são necessários, que carregam histórias que precisam ser contadas. Histórias sobre lutas atemporais, e personagens de importância muito maior que qualquer crédito que lhes é cedido. Rustin é um desses filmes. Seu enredo fala de uma batalha travada há muitas décadas. Uma batalha entre muitas de uma guerra eterna contra a ignorância e o preconceito. Uma guerra que se transforma, mas se mantém revoltantemente atual, sempre.

Antes de assistir ao filme, não conhecia o ativista Bayard Rustin, aqui vivido por Colman Domingo. Portanto, não sei dizer se o filme é fiel à sua figura, se o romantiza demais, ou se não faz jus à sua importância. Posso afirmar, todavia, que a mensagem transmitida é potente, e que Domingo apresenta um dos trabalhos mais incrivelmente cativantes que pude presenciar nos últimos anos. Em seu filme, Rustin é um herói, e nada menos que isso.

Rustin apresenta a luta do ativista pelos direitos civis afro americanos Bayard Rustin, para organizar o que veio a ser o maior protesto pacífico que a história já viu: a mobilização de Washington, que ocorreu em agosto de 1963, e reuniu mais de 250.000 pessoas contra a segregação racial dos Estados Unidos. Bayard Rustin lutou ao lado de diversas figuras antirracistas importantes, como o seu amigo Dr. Martin Luther King. Entretanto, Bayard não costuma ser lembrado por seus feitos e sua luta, diferente de muitos de seus colegas de causa. A razão para isso? Bayard Rustin era gay.

Por ser um homossexual assumido, Bayard sofreu repressão tanto de seus adversários, quanto de seus aliados de causa. Em Rustin, o vemos enfrentar a tudo e a todos com determinação, e uma energia única, contagiante e motivadora. Bayard Rustin é uma personagem fantástica, e a atuação de Domingo é brilhante! O ativista se destaca em qualquer ambiente que se vê inserido. Bayard não baixa a cabeça, enfrentando de peito erguido quem o tenta diminuir ou calar, e influenciando parceiros desmotivados de luta com sua intoxicante e inabalável confiança.

Mas é óbvio que Bayard não é um poço de autoestima. Longe disso. Seu psicológico está despedaçado, e menos não se pode esperar de um homem negro e homossexual que enfrenta pacificamente, frente a frente, oficiais armados de cassetetes e muito ódio. Bayard é forte e, infelizmente, a opressão racista e homofóbica o forçou a ser ainda mais forte. Cansado, desfigurado, ofendido e difamado. Bayard Rustin apanha de todos os lados, mas não desiste nunca de lutar pela justiça, e se nega a deixar que seus parceiros de causa se dêem por vencidos.

E Rustin, agora me referindo ao filme, acompanha a energia de seu protagonista freneticamente. Claro que há momentos tensos e dramáticos, de maior lentidão e peso tonal, mas a edição dinâmica e a banda sonora embalada por um jazz inquietante correm ao lado de Bayard, inesgotáveis, tão ansiosas e motivadas a cativar e inspirar quanto o esperançoso ativista.

Na verdade, elogios não faltam ao filme. Rustin consegue ser uma obra empolgante e convidativa, apesar de todo seu peso temático. O ritmo do filme é contagiante, e as atuações prestadas são de altíssimo nível, com exceção de Chris Rock, que está decente em seu papel, e apenas isso. A arte de Rustin também merece destaque, uma vez que reproduz com muita riqueza em detalhes e autenticidade um local que foi palco de uma segregação racial absurda e vergonhosa, em uma época não tão distante assim. 

Talvez usar a palavra “foi” tenha sido infeliz de minha parte. Nós evoluímos, é claro, mas, por mais que seja mais abertamente discutido e combatido, o ódio ainda se faz presente, ofendendo, oprimindo e matando. Rustin está no passado, sim. Mas é, de certa forma, vergonhosamente atual. Portanto, Rustin é um filme necessário, uma obra tão essencial quanto escancarar obviedades estupidamente negadas e silenciadas.


Rustin
Rustin

ANO: 2023

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 1h 46min

REALIZAÇÃO: George C. Wolfe

ELENCO: Colman Domingo, Chris Rock, CCH Pounder

+INFO: IMDb

Rustin

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