Rye Lane tem personalidade… até demais!

Por mais que não tenha me agradado muito do filme, devo admitir: Rye Lane tem muito carisma. Com uma edição dinâmica, um excelente uso de cores que criam um atraente impacto visual, e uma dupla de protagonistas extremamente talentosa, Rye Lane é uma comédia romântica enérgica e cheia de identidade. Porém, por mais qualidades positivas que o filme possa ter, ele simplesmente não funcionou muito bem para mim.

Vou direto ao ponto: o que mais me aborreceu em Rye Lane, e isso ocorreu logo em seus minutos iniciais, é o desequilíbrio que o filme apresenta em relação à sua intensidade. A todo momento senti que o filme se comportava como se estivesse em seu clímax, ou se aproximando disso. Há uma sobrecarga de informações sendo transmitidas sem que haja muito espaço para se absorver tudo. A banda sonora muito invasiva que, junto de sonoplastias e efeitos sonoros excessivos, mais bagunça do que estimula; personagens secundárias ridículas, irritantes e barulhentas extremamente caricatas que não são efetivas ao tentar fazer rir; exagero de situações absurdas, mesmo nos intervalos entre os principais conflitos da trama, que parecem ali estar apenas para gerar volume de ruídos e impactar com sua aleatoriedade.

Não consigo entender a necessidade de se ter, em quase todas as cenas, figurantes espalhafatosos, escandalosos, inconvenientes e chamativos tentando competir com a atenção do casal principal incessantemente. Rye Lane não cansa de tentar impressionar com exagero, mas eu canso.

Nem mesmo nos requisitos técnicos o filme escapa de excessos. Eu vejo, sim, a criatividade e energia da fotografia e o dinamismo da edição como fatores que contribuem de forma majoritariamente positiva para Rye Lane. Tudo isso traz muita autenticidade ao filme, que ganha uma cara única e muita personalidade. Todavia, Rye Lane faz um uso exacerbado de firulas visuais, e muitas vezes parece só usá-las pois quer e pode. “Quanto mais, melhor”. Seus recursos visuais nem sempre se justificam, tornando-se desnecessários e até distrativos demais, afastando o público do que realmente importa na obra.

Rye Lane parece estar sempre acima do tom. A sensação é de que o filme tenta muito, e acaba por se exceder. E faz isso sem necessidade, pois já encontra muita força em sua dupla de protagonistas e enredo simples.

O trabalho da dupla David Jonsson e Vivian Oparah, que vivem Dom e Yas, respectivamente, é incrivelmente engajante, e faz valer a pena a experiência de Rye Lane. Ambos são muito talentosos e vivem suas personagens com muita potência e espontaneidade. Dom com seu baixo astral e personalidade autodepreciativa, Yas com sua extroversão e bom humor. O casal demonstra muita química e cada personagem cresce muito quando contracena com o outro. Os dois são ótimos individualmente, mas funcionam muito melhor juntos. É assim que se desenvolve um par romântico e se convence de que eles precisam estar juntos.

Outro aspecto positivo de Rye Lane é a direção de arte. Se as personagens principais do filme funcionam bem, a arte do longa conversa perfeitamente com elas e as abraça com sua enorme gama de cores vivas e cenários detalhadíssimos. Cada local que Dom e Yas visitam tem sua própria identidade e ajudam a contar um pouco mais sobre quem eles e as pessoas à sua volta são. Uma pena a realização escolher encher suas cenas de elementos que tentam desesperadamente buscar os holofotes e acabam por ofuscar o belíssimo trabalho de arte presente no filme.

Mas, chegando à sua conclusão, Rye Lane fecha muito bem sua história. Toda aquela catarse emocional, visual e sensorial que pouco funcionou durante boa parte da duração do filme, finalmente se justificam e se fazem válidas. Aqui, sim, sentimos o impacto de um clímax grandioso. Clímax esse que muito se beneficiaria se Rye Lane filtrasse melhor a ação em seus dois primeiros atos, e deixasse que seus momentos finais tivessem o grande destaque que mereciam.

Com isso, finalizo afirmando que, por mais que tenha muitos problemas com Rye Lane, não consigo considerá-lo um filme ruim. Não quando se exala este tanto de carisma e energia. Seus excessos são muitos, e muito distrativos, mas, no fim das contas, Rye Lane é inevitavelmente contagiante e satisfatório.


Rye Lane
Rye Lane

ANO: 2023

PAÍS: Reino Unido

DURAÇÃO: 1h 22min

REALIZAÇÃO: Raine Allen-Miller

ELENCO: David Jonsson, Vivian Oparah, Poppy Allen-Quarmby

+INFO: IMDb

Rye Lane

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