Saint Maud (UK, 2019)

Está Saint Maud à altura do hype?

Originalmente agendando para Abril de 2020, a pandemia chegou e o filme viu o seu lançamento adiado para Julho desse ano. Julho foi também uma miragem e só em 2021 o filme viu a luz do dia. O hype à sua volta cresceu e cresceu. Visto no início de 2020 por poucas pessoas em screeners antecipados para a impensa, as críticas diziam apenas maravilhas, considerando-o revolucionário para o cinema de terror e verdadeiramente aterrador.

Na história, Maud (Morfydd Clark) é uma jovem enfermeira que chega à casa de Amanda (Jennifer Ehle), para desta cuidar, devido a uma doença terminal da dona da casa, que um dia foi uma dançarina de sucesso. Maud é uma devota, recém convertida, que parece levar essa devoção a certos extremismos. O estilo de vida boémio de Amanda é visto por Maud como uma das causas para o estado dela não melhorar e, por isso, Maud faz de tudo para a afastar desses pecados, acreditando na sua salvação. Entretanto, ficamos a saber que a devoção de Maud apareceu depois de um episódio infeliz, quando esta era enfermeira num hospital e…nada mais da história irei aqui contar, porque eu e spoilers somos os maiores inimigos. 

Rose Glass realiza a obra e procura sempre dar à mesma um tom sombrio, místico, com filmagens numa cidade costeira britânica, procurando utilizar os locais junto à praia para alguns dos momentos mais introspetivos. Isso permite que o filme apresente uma beleza particular, fazendo um interessante uso da luz natural, especialmente quando a mesma está a desaparecer, dando lugar à noite, onde Maud, por várias vezes, se transforma numa outra pessoa. A realizadora procura criar dúvida nos espetadores, usando e – de certa forma – abusando do poder da sugestividade, sem nunca sabermos bem o que está a acontecer, mas pressentindo que algo está para acontecer. Será Maud “passada da caximónia”? Será ela uma extremista religiosa? Será ela uma santa? Estará ela possúida? Estará Amanda possuída? Irá Maud salvar o mundo? Ou irá Maud entrar em modo serial killer e destruir todos os impuros deste mundo?

Enquanto tentamos dar resposta a muitas destas interrogações, Clark dá-nos uma boa lição na arte da representação, alterando a sua expressividade e as suas atitudes de forma bastante convincente, de acordo com o acontecimento, espaço onde se encontra e as pessoas que a rodeiam. Por outro lado, à medida que o filme avança, Glass vai também exibindo as suas capacidades atrás da câmara, seja com alguns estilosos e tecnicamente competentes shots, pouco habituais no cinema de terror mais mainstream, seja através de algumas imagens bizarras o suficiente, para se perceber que a revelação está próxima. No entanto, essa revelação teima em não chegar. E é ai aqui que aponto as maiores falhas de Saint Maud. A certa altura, deixa de se acreditar que o filme vai chegar mais além como filme de terror, sendo uma melhor experiência se o aceitarmos como um drama psicológico perturbador, onde a personagem principal vive a sua devoção no limiar da racionalidade. Sempre com esperanças que o tal terror chegue. E como ele demora a chegar…

O terror gráfico, propriamente dito, dá a cara, apenas no clímax do filme, de forma eficaz, mas demasiado breve. Diria até que o excessivo jogo de paciência que nos é exigido ao longo do filme torna a sua conclusão, de certo modo, previsível, apesar das interessantes diferentes perspetivas apresentadas. É um filme que recomendo que seja visto, pelo menos, uma vez. No entanto, talvez o seu marketing não tenha sido o ideal ou, talvez, o hype não lhe tenha feito qualquer bem. Não entrará na minha lista de “filmes de terror obrigatórios”, mas poderá entrar na lista de excelentes desempenhos em dramas psicológicos.

 


Saint Maud
Saint Maud

ANO: 2019

PAÍS: Reino Unido

DURAÇÃO: 84 minutos

REALIZAÇÃO: Rose Glass

ELENCO: Morfydd Clark, Caoilfhionn Dunne, Jennifer Ehle

+INFO: IMDb

Saint Maud

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