Samaritan (ou a mentoria que Stallone sempre quis em Creed)

Moda dos super-heróis? Confere. Figura-modelo para um jovem em crescimento com boa base? Claro. Argumento que consegue sustentar-se nisto para esticar num filme de hora e meia? Está bem. Um dos filmes mais esperados desapontou? Nem por isso. Mas não se safa da mediocridade.

Stallone é Joe, um mundano (average) Joe. Stallone recolhe lixo e dedica o seu tempo-livre a reparar electrónica dada como lixo. Stallone é um produtor, protagonista e, no seu filme, um compasso-moral em aprendizagem tão humilde que nem tem preponderância até ao segundo acto.

Até aí o filme é carregado pelo jovem talentoso, mas altamente cru Javon Walton que ora é instruído para ser um garoto inocente de bairro com boa base e coração, ora um ardina ardiloso e sagaz de bairro que faz as escolhas erradas por não ter base.

E é aqui que o filme não consegue valer mais do que se propõe. A primeira pista para esta falta de qualidade geral é a avaliação de PG-13, que surpreendentemente é deitada fora nas sequências de acção, mas já lá vamos. A segunda pista é o tom apressado ao estilo animação de todo o enredo apesar de o condimento principal que já mencionei só ser apresentado tarde, em más horas e mal aproveitado. “Não queriam aproveitar-se demasiado do tropo dos poderes e afins!” será uma das teses. A que defendo é não ter uma ideia distinta de como o fazer bem. Bons exemplos não faltam e mesmo que tenham sido ignorados, não há desculpa para implementar uma ideia de forma simples e contundente. Outra pista é a representação na grande generalidade. Isto grita TV Movie de ponta a ponta. Stallone é questionavelmente o melhor actor de todo o filme porque, tal como mencionei na minha lista de filmes mais esperados quando falei de Samaritan, a cara enrugada e corpo velho e abatido fazem grande parte da representação e caracterização, e isso não tem mal. Outro actor que podia fazer muito mais e talvez se tenha travado ou tenha tido instruções para tal é Pilou Asbæk (Euron Greyjoy de Game of Thrones). É o antagonista que, a par de Stallone, é mal aproveitado, apresentado nas suas intenções e actos com um par e meio de frases e siga para bingo.

As sequências de acção não se enquadram no tom do filme. Todo o golpe de alto impacto que um capanga receba faz dele um candidato a medalha olímpica de ginástica. Isso ou tornam-se piões humanos. É ridículo, mas de mau, não de (des)propositadamente hilariante.

Os efeitos especiais são tão sublimes quanto a escalada de “ridicularidade” espectacular ou espectacularidade ridícula que o filme trepa até ao seu apogeu com aquela cena de de-aging. Nem digo mais. É ver.

Ao todo, para o que o filme propõe, e como é proposto, consegue entregar a mensagem positiva de hetero e auto-ajuda. Não há decisões de caminhos irreversíveis até que o sejam quando a índole se crê convicta de que está certa, assente em integridade, por mais que as acções e actos contrariem tais motivações.

É possível que Samaritan tenha mais uma tentativa de contar o que não falhou necessariamente neste filme, com outro melhor, pois os ingredientes estão cá e a equipa de cozinha também. Que se aposte num melhor chef para coordenar isto e que acredite um pouco mais no projecto do que este se deu a acreditar.


Samaritan
Samaritan

ANO: 2022

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 102 min.

REALIZAÇÃO: Julius Avery

ELENCO: Sylvester Stallone, Javon 'Wanna' Walton, Pilou Asbæk

+INFO: IMDb

Samaritan

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