Há filmes que dizem mais a algumas pessoas do que a outras. Há também filmes que parecem querer falar especificamente para um tipo de público e Sanctuary é um desses filmes.
Um menino riquinho (Hal) à beira de herdar um império está confinado a um quarto de hotel com a dominatrix (Rebecca) que contratou para satisfazer as suas taras sexuais. Conforme o filme se vai desenrolando, percebemos que nem tudo o que parece é ou…então até pode ser.
Reduzido a um ambiente claustrofóbico quase tudo aqui baseia-se no diálogo e na sua entrega. Assim sendo, a forma como “compramos” ou não aquilo que nos é apresentado pelas duas personagens irá influenciar, de forma decisiva, a opinião final desta obra. Hal e Rebecca são vividos por Christopher Abbott e Margaret Qualley, dois atores que eu, habitualmente, admiro, mas que aqui vivem duas personagens que não me dizem absolutamente nada. Nada de errado estaria com isso. Uma boa personagem não tem que ser necessariamente uma personagem boazinha ou repleta de valores morais. O problema está no facto disso aliar-se ao facto de eu nunca comprar estas personagens como personagens completas fora daquela dinâmica. Tudo me parece ensaiado, tudo parece teatral, tudo parece a leitura de um texto. O que até certo ponto faz sentido (vejam!), mas deixa de o fazer (vejam!). Confesso que quando esta “peça” terminou, eu já não os podia mais ver à frente e terei que fazer um desmame de alguns meses até que tais caras me voltem a parecer convidativas.
Abbott e Qualley são dois queridinhos do público mais alternativo e por isso nada surpreende que eles tenham sido os escolhidos por Zachary Wigon para protagonizar um filme que tem cara de festival. Ou melhor, tem cara de realizador estreante (e não o é) que leva o seu primeiro filme a um festival alternativo de cinema. Talvez assim eu tivesse aceite melhor esta obra, pois ela parece uma obra de final de curso. E, nesse contexto, talvez fosse brilhante – muito prometedora, no mínimo. Afinal, faz coisas girinhas com a câmara e seus recursos limitados e tem um conceito fascinante.
Mas aqui estamos a falar da liga sénior. Um conceito excelente de nada serve se não for explorado e este filme termina a sua duração exatamente como termina o primeiro ato. Tinha sido bom até aí, mas não pode passar dois outros atos a repetir-se sem qualquer tipo de nuance, nem pingo de realismo, acrescentando absolutamente nada ao que quer dizer, nem fazendo-o de um modo interessante.
Sanctuary tem toda a cara daquele típico estudante de cinema que se acha o rei da turma, sobrando-lhe em presunção aquilo que pensa ter em inteligência. Tem um conceito super interessante, conjugando sexualidade com o mundo corporativo e, com isso, entra de forma satisfatória na análise das relações de poder. Pena é que nunca pareça sair dessa mesma entrada, pautando toda a sua duração por uma única nota.