Não são muitas as sagas – de terror ou não – que chegam ao seu 6º capítulo com uma vitalidade enorme. Em 2022, o 5º capítulo de Scream – já sem Wes Craven entre nós – deu tudo aquilo que os fãs esperavam: uma revitalização da franchise com excelentes novas personagens, cheio de comentário relevante para os tempos atuais, mistério e a habitual mistura de boa disposição e tensão que sempre foi imagem de marca desta franchise. A tudo isso acrescentou doses de sangue acima do habitual.
O 6º capítulo inova em várias áreas e segue o caminho esperado – e bom – em muitas outras. O sangue de que vos falei? Está presente em doses ainda maiores. A violência é enorme e as mortes são bem conseguidas com vários momentos surpreendentes que vos poderão fazer sorrir ou…desviar o olhar. Temos as regras sim, constantemente atualizadas e, mais uma vez, muito bem entregues por Mindy (Jasmin Savoy Brown), uma das personagens favoritas dos fãs. Temos também todo o comentário meta que é feito a filmes de terror (logo desde a cena de abertura!) e temos o habitual aspeto whodunit que de todos nos faz duvidar.
Mas para Scream se manter fiel a si próprio também precisa de inovar e fazer coisas diferentes e este capítulo volta a ser bem-sucedido nisso. Logo na já referida cena de abertura percebemos que quer fazer coisas diferentes e isso segue-se com outras cenas muito tensas e inspiradas a usar tudo o que uma grande cidade como Nova Iorque permite. A existência de prédios permite que esconderijos e espaços para fugas sejam mais contíguos. No entanto, isso é balançado com os espaços abertos de grandes parques e o melhor ainda fica reservado para uma sequência incrível no metropolitano que nos faz roer as unhas até nada mais restar para roer.
Já no comentário que faz, também faz algo diferente, embora talvez não tão forte quanto o fez em capítulos anteriores. No último filme o maior foco foi em “requelas” e filmes de terror de “elevação”. Aqui o maior foco está sobre os slashers e sobre franchises onde todos podem estar em risco. Essa elevação do risco para todos é notória em todo o filme, embora um dos (poucos) pontos fracos que retiro deste filme é precisamente ser cada vez mais difícil morrer em Scream. Se não virmos o corpo a ser enterrado, há sérias probabilidades de que o atacado sobreviverá no seu último suspiro mesmo depois de várias facadas aparentemente mortais.
Ainda assim, esse tipo de características são mais ou menos esperadas em slashers, em especial quando falamos de longas sagas. Mas Scream VI tem vários trunfos na manga, nomeadamente na forma como nos aproxima ainda mais das suas personagens principais. É impossível não sentirmos algo quando vemos alguém do “core four” a ser atacado e estas personagens já são tão nossas quanto as originais. Sim, não houve a clássica Sidney Prescott, mas quase que nem se deu pela sua falta. Até diria que sinto que a saga precisava disto para respirar. Há Gale (Courteney Cox), que vive dividida como sempre viveu. Há o regresso de Kirby (Hayden Panettiere) mais confiante e adulta do que nunca, agora na pele de uma detetive do FBI. E o melhor, o nosso grupo de quatro está mais forte e unido do que nunca. Além da já referida e excelente Mindy e do seu irmão Chad (Mason Goody) – sempre presente, sempre pronto a dar o corpo às bolas – há a destacar que as irmãs Tara e Sam têm uma relação bem mais prõxima do que a que tinham no capítulo anterior, sendo um dos destaques deste filme. Jenna Ortega mostra, mais uma vez, o seu versátil talento e Melissa Barrera cresce como atriz no seu papel em constante conflito com ela própria e com o seu passado. A ligação que liga estes quatro elementos faz-nos torcer por eles e é uma grande vitória para os novos donos da franquia, com os realizadores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett à cabeça. Eles perceberam o que é a alma de Scream, adaptaram-na aos tempos atuais e parecem ter tudo encaminhado para que nada descarrile num futuro próximo. Claro que para isso é também fundamental a escrita dos repetentes James Vanderbilt e Guy Busick que sabem o que fazem, sendo importantíssimos na fase pós-Wes Craven.
Outras novas personagens são introduzidas e nenhuma delas é oca o suficiente para que dela nos esqueçamos. A conclusão pode ter-se alongado em demasia e pode parecer um pouco “irrealista” para alguns. Entendo, mas consigo também perceber o seu significado para a série – principalmente se atendermos a Sam e a quem foi o seu pai – e a revelação do Ghostface surpreendeu-me, o que é sempre um ponto positivo num filme do género.
Podem-me dar um todos os anos! Sou um enorme fã da saga que é, para mim, a mais consistente e mais bem-sucedida da história dos slashers. Ao 6º filme, quem escreve e realiza prova que entende os fãs da saga e o resultado é um filme recheado de (muito!) sangue, humor, comentário meta, mistério, plot twists e excelentes personagens que são como uma família. Não é o capítulo mais realista, mas é, simultaneamente, um dos mais tensos e divertidos.