Secret Invasion: grande potencial desperdiçado por piada de mal gosto indigesta

Vou ser direto: Secret Invasion (Invasão Secreta) é um grande desperdício de potencial da Marvel. Potencial esse que, inicialmente, para mim, não existia. Esperava da série protagonizada por Nick Fury algo completamente genérico, mas com o passar das semanas, fui surpreendido e conquistado. Me envolvi, passei a aguardar ansioso por cada episódio, para então me decepcionar amargamente.

Não fiquei completamente convencido com a estreia de Secret Invasion. O primeiro episódio não é ruim, e entregou o tão prometido clima de tensão e espionagem. Meu problema foi com a escrita do argumento, que é simplista, boba demais para uma premissa que prometia ser complexa e madura. Então, eis que assisto ao capítulo da semana seguinte, e tudo muda. Sou impactado com um texto de alto nível, que há muito a Marvel não apresentava, recheado de grandes cenas embaladas por diálogos excelentes. A partir daí, o nível de expectativa subiu e, é claro, de exigência também.

E a qualidade se manteve, semana a semana, mesmo que os novos episódios não superassem o segundo. Além de o texto se manter ótimo, entregando sempre grandes diálogos em intrigantes cenas de combates verbais, a série também conta com um elenco de muita qualidade. Secret Invasion conta com algumas das melhores atuações já prestadas ao MCU.

Olivia Colman é Sonya Falsworth, uma carismática e manipuladora agente do MI6. Colman é uma força da natureza, e Sonya certamente não teria o mesmo impacto, não fosse seu trabalho. Numa mistura mortal entre simpatia e frieza, conquista tudo o que quer, inclusive o público, com seu sorriso largo, acompanhado de um tom alegre e convidativo, muita ironia, e uma mascarada apatia que gera terror em seus adversários.

Ben Mendelsohn é Talos, personagem já conhecido pelos fãs da Marvel. O cansado, porém esperançoso ex-líder Skrull é, para mim, a melhor personagem da minissérie. Sereno e sentimental, Talos é o parceiro perfeito para o protagonista da série, Nick Fury. Ambos são ótimos juntos, formando uma das dinâmicas mais interessantes já apresentadas pelo MCU. Enquanto Fury luta para consertar tudo e pagar dívidas importantes, Talos luta por esperança. O alienígena metamorfo é quem faz a ligação emocional de Fury com a situação em que estão inseridos, e também quem o enfrenta com verdades difíceis, porém de enfatização necessária.

Nick Fury é o grande nome da série, e Samuel L. Jackson entrega sua melhor atuação como a personagem até então. Fury já não é mais o mesmo, o peso da idade o afeta, assim como o fardo das consequências de uma vida de maquinações, segredos e mentiras. O líder da SHIELD sempre foi cinzento, e Secret Invasion respeita isso, sem nunca romantizar os feitos do agente secreto, abordando lados jamais explorados antes de sua vida, que são, logicamente, tão conturbados e intrigantes quanto sua vida profissional.

E essas personagens se entrelaçam em uma trama de paranóia que poderia ser mais carregada de tensão, mas que para isso precisaria contar com um elenco de escopo muito maior. Secret Invasion trata de alienígenas disfarçando-se de seres humanos e ocupando nossos lugares. Um elenco numeroso faria bem à atmosfera de “quem é realmente humano?”, mas acredito que trabalham bem com o que têm em mãos. Quem é fã do material original dos quadrinhos pode se frustrar, devido a grande escala dos eventos, que envolvem grandes combates com os Vingadores. Mas acho criativa a ideia de ter Nick Fury, que já tinha histórico com os Skrulls no cinema, como protagonista, e trazer com ele a trama para um nível confidencial, de conspirações e missões secretas. Assim, damos uma respirada dos grandes eventos típicos da Marvel, e consumimos algo mais contido.

Secret Invasion se mantém estável em relação à sua qualidade, até desandar em seus momentos finais. O penúltimo episódio deixa um pouco a desejar, mas é efetivo em criar expectativas para um encerramento que prometia grandes emoções. Imagine um desfecho repleto de diálogos poderosos e complexos como os que vinham sendo entregues até então? Não seria incrível? Pois é, poderia ser, mas não foi. Ao invés de se manter fiel ao ritmo e tom da série até então, Secret Invasion termina sua trama com uma péssima, desinteressante e mal finalizada cena de combate em CGI. She-Hulk (Mulher-Hulk) nos falou disso em seu incrível season finale, e na minha resenha crítica sobre a série da heroína esmeralda (leia aqui), comentei como a sagacidade de tal episódio poderia envelhecer como um dos melhores produtos da Marvel até então, um divisor de águas no formato de narrativas do MCU, ou uma grande piada de mal gosto. Tudo dependeria de como a Marvel passaria a tratar suas futuras obras. E então Secret Invasion chega, e a Marvel ri das nossas caras.

O último episódio de Secret Invasion é tão ruim, tão mal escrito e realizado, que consegue estragar a perspectiva da série de um modo geral. Não gosto da ideia de argumentar contra uma série no caso de um desfecho ruim. Muitas vezes, o que antecede o encerramento é muito maior do que qualquer decisão tomada nos seus finalmentes. Porém, o que Secret Invasion faz com seu final deixa um gosto tão amargo, que é difícil pensar na obra como uma produção de qualidade. Mas, mesmo assim, me esforço para o fazer, pois o que foi entregue em seu miolo é de verdadeiro bom gosto, e não quero desmerecer o bom trabalho de quem me entreteve durante semanas a fio.

Secret Invasion promete ser diferente, mas, ao final de tudo, decide ser igual. Entretanto, ao tentar ser igual, acaba sendo pior. E desperdiça um grande potencial. Grandes atuações, grandes diálogos, grandes cenas compostas por um texto excelente. Tudo isso jogado fora por uma “épica” cena de luta em CGI. Uma pena.


Secret Invasion
Invasão Secreta

ANO: 2023

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 6 episódios

REALIZAÇÃO: Ali Salim

ELENCO: Samuel L. Jackson, Ben Mendelsohn, Olivia Colman, Emilia Clarke, Don Cheadle, Kingsley Ben-Adir

+INFO: IMDb

Secret Invasion

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