Todos passamos pela adolescência, essa fase conturbada, confusa, cheia de descobertas, ansiedades e emoções exacerbadas. Sex Education trata de diversos temas, envolvendo diferentes faixas etárias, principalmente relacionados a sexo, mas o seu grande foco se faz nos jovens com os hormônios à flor da pele. A série sempre acompanhou suas personagens em sua jovialidade, exageros e intensidades e, agora que as mesmas estão encerrando este ciclo de juventude e adentrando pouco a pouco na árdua e exigente vida adulta, Sex Education também atinge a maturidade.
Sex Education sempre se mostrou muito superior à maioria das produções voltadas ao público adolescente. Mesmo brincando muito com suas personagens, e abusando de um humor pouco sutil, a série nunca subestimou sua audiência com tramas superficiais, que reduzem os dramas da adolescência a meros chiliques sem propósito. Pelo contrário. Sex Education trata suas personagens e quem as acompanha com respeito, desenvolvendo, sempre com maestria, enredos complexos e profundos sobre temáticas importantíssimas, de necessária discussão, que já atingiram, ou hão de atingir a todos nós em algum momento de nossas vidas.
O quarto ano da série fala de ciclos. Do encerramento de alguns, como o fim dos estudos escolares, ou o afastamento entre pessoas; ou do início de outros, como a descoberta de uma vocação profissional, ou a aceitação do que é essencial para si, que deve ser abraçado em detrimento do que deve ser deixado para trás. Sex Education encerra sua linda jornada com a maturidade de um projeto que sabe que desfechos, de fato, não existem. O que há em nossas vidas é apenas uma sucessão de experiências, duradouras ou breves, mas sempre efêmeras, que nos transformam e nos mantêm em movimento. Em avanço, em retrocesso, para um lado, ou para o outro. Não importa. Seguimos sempre em direção à mudança.
Pessoas saem de nossas vidas, outras entram. Algumas coisas deixam de fazer sentido, e outras passam a ser vistas de outra maneira. Transformação é um tema recorrente em Sex Education, e o perdão é muito discutido nesta quarta temporada. Discutem-se mágoas, culpas, índoles, e, é claro, a famigerada política de cancelamento. Não é correto dizer que existam vilões em Sex Education, mas na última temporada, os papéis das personagens são muito mais indefinidos. Todas têm suas complexidades respeitadas: são pessoas com intenções próprias, que seguem suas ambições, errando, acertando, sendo julgadas, e julgando os outros justa, ou injustamente. Há boas intenções que resultam em toxicidade, e há más intenções compreensíveis, discutíveis e remediáveis, que talvez mereçam mais atenção que quaisquer outras. Sex Education chega para nos lembrar que a total exclusão, ou melhor, o cancelamento, é uma prática estúpida, injusta e, certamente, a pior solução para qualquer problema.
O quarto ano de Sex Education não é fácil. A série segue, sim, repleta de momentos divertidos, recheados de absurdos e vergonhas alheias. Todavia, a atmosfera dessa temporada é cinzenta, cansada. Mudanças inevitáveis acontecem, e as personagens têm dificuldade em se adaptar. Nós também, enquanto público, resistimos à mudança, seja por paixão e apego às personagens e seus contextos, ou seja pela identificação, direta ou indireta com elas. Eu, pessoalmente, me vi seriamente afetado pelo sexto episódio da temporada. Desde o início da série, me identifiquei muito com o protagonista, Otis (Asa Butterfield). Então, vê-lo corroer, por conta de suas ações imaturas, suas relações de amor e amizade, me fez refletir entre paranóias e realidades de minha vida. A experiência foi angustiante, mas, de certa forma, enriquecedora.
Sex Education decide, em sua despedida, provocar. É surpreendente quando uma série escolhe perturbar seu público ao invés de presenteá-lo com agrados. Agora, para uma série voltada ao público adolescente seguir este caminho, é preciso muita coragem. Sex Education não se acovardou, mantendo-se fiel à sua essência, sem nunca seguir por caminhos de fáceis obviedades, e eu admiro muito isso.
Sex Education é grande e foi agraciada com um final digno de sua magnitude. Não é um encerramento fácil, é verdade. Mas é uma experiência intensa, realista e, principalmente, justa com suas personagens e seus arcos dramáticos. Quer goste ou não, as mudanças chegam, e devemos nos adaptar a elas, por mais difíceis que possam ser. Vivemos, evoluímos, e então amadurecemos. E assim fez Sex Education.
