Um filme começou a andar nas bocas das gentes do terror nos últimos meses de 2022. Desde relatos de uma perturbadora e original experiência a comparações com The Blair Witch Project, hype não falta a Skinamarink com o TikTok – claro – a ter um grande impacto. As principais publicações de terror do mundo deram-lhe um destaque bem maior do que o seu orçamento poderia fazer prever e relatos falavam de algo único. $890,000 de bilheteira poderá parecer-vos curto para um fim-de-semana de estreia, certo? E se eu vos disser que isso é 60 vezes o orçamento do filme, que não ultrapassou os $15,000? Mérito enorme: isto é um filme de baixíssimo orçamento, do mais baixo que pode existir, e conseguiu, de certa forma, atingir o mainstream do mundo do cinema de terror. Um autêntico sucesso comercial e sem contarmos com o dinheiro que fará com a ida para os serviços de streaming e vendas em outros formatos.
Quanto ao filme, se há algo onde Skinamarink merece aplausos é no ambiente que consegue criar. A história parece daquelas que poderia ser a de qualquer um de nós, um dos maiores receios da nossa infância. Duas crianças pequenas acordam a meio da noite e apercebem-se de que os pais não estão em lado nenhum da casa. Para agravar a situação, uma força sobrenatural mantém-nas presas numa casa sem janelas e sons estranhos começam a ecoar pela casa. As crianças pouco mais podem fazer do que aquilo que bem sabem: brincar e jogar.
Perfeito, certo? Acontece que Skinamarink resulta por 20, 25 minutos. É baseado numa curta do mesmo realizador – Heck – e acredito que isso possa vir a ter um impacto bem maior em mim. De qualquer forma, é um conceito que se estica em demasia para 100 minutos, uma vez que o filme é do mais repetitivo que pode existir. Escuridão. Imagem granulada. Câmara estática. Longos segundos. Uma televisão com desenhos animados. Longos segundos. LEGOs. Passos. Longos segundos. Barulhos. Uma voz. Nada que o nosso olho consiga captar a não ser no seu canto. Repetir. Este é o processo do filme que nunca tenta tocar uma outra nota. É isto e isto só.
Esta repetição e sensação de que estamos a viver o mesmo que já vivemos uns minutos atrás é obviamente propositada. O autor – Kyle Edward Ball – quer, com toda a certeza, transmitir-nos uma sensação de impotência e claustrofobia. Uma espécie de pesadelo do qual não conseguimos sair façamos o que fizermos. E que maior pesadelo há quando somos crianças – e não só – do que darmo-nos conta de que estamos sozinho e ninguém há que nos possa acudir? Ainda assim, e apesar desta técnica imersiva aparentemente funcionar bem com alguns, não é algo que tenha resultado comigo. Conforme o tempo ia passando, ia ficando mais frustrado, mais impaciente e muito menos engajado com um filme que é muito mais arte abstrata do que cinema, muito mais uma experimentação artística do que um filme com os seus vários elementos.
Não foi a ausência de um real guião que me incomodou, não foi o found footage, não foi a ambiguidade do que vemos e do real significado deste pesadelo. O que realmente me incomodou foi a ausência de tudo e a mão cheia de coisa nenhuma, a não ser vibes. Enalteço a originalidade e coragem do autor em trazer algo tão diferente à vida. No entanto, a arte cinematográfica deve também procurar criar uma certa conetividade com a sua audiência, seja ela qual for. Não digo que todos os filmes devam ser comerciais e saltar de jumpscare em jumpscare. Não defendo que toda a arte deva ser fácil ou tocar na alma da maioria das pessoas. Defendo que algo deverá ser sempre dado como retorno pelo investimento exigido. Infelizmente, neste caso senti que é um filme que nos pede tudo para nunca nos recompensar com coisa alguma.