Smile é um terror assustador e inteligente

Que ano incrível para o terror! E falta ainda o sempre abençoado Outubro. Não há outra froma de começar esta crítica do que começando por elogiar o género que nunca esteve tão vivo e nunca foi tão elogiado criticamente, existindo muitas razões para isso.

Smile é baseado numa curta-metragem de Parker Finn. Parker Finn também escreve e realiza esta longa e isso explica muito do sucesso do filme. Mas antes de explicar onde é que isto resulta e onde fica a faltar algo, vamos explorar um pouco da história que vai muito para além de assustadores sorrisos e sustos fáceis. Há, na verdade, muito aqui para falar e explorar.

A cena introdutória do filme é perfeita do ponto de vista conceptual. Porquê? Porque imediatamente nos dá toda a introdução que precisamos para entrarmos no contexto do filme, não só ao nível dos elementos mais clássicos de terror, mas também ao nível das suas principais temáticas. Tudo isto antes do filme nos dar o seu title card. Mas como? Apresentando-nos de imediato a nossa personagem principal, a Drª Rose Cotter, que trabalha num hospital psiquiátrico e que recebe a visita de uma nova paciente que em dez minutos apresenta estranhos comportamentos, afirma estar a ser perseguida por uma entidade maligna, sorri de forma assustadora e suicida-se à sua frente. E agora a tal maldição parece ter passado para a Drª que é impecavelmente interpretada por Sosie Bacon, num daqueles papéis onde tem que muitas vezes balançar-se na fronteira que separa aquilo que todos vêem e aquilo que apenas ela consegue enxergar.

Trauma. Sempre será traumático assistir a um evento tão dramático e violento quanto um suicídio. E é do trauma que esta entidade se alimenta. E como tão bem é utilizado este tema…afinal, muitos de nós passámos por traumas e os traumas apenas ficam guardados num canto escondido dentro de nós, sempre prontos para serem reativados. O luto e o sentimento de culpa estão muitas vezes associados a eventos traumáticos e Smile não nega essa ligação. Não se nega também em fazer conexões com problemas psicológicos e mentais que daí podem advir e de como quando isso acontece, a vítima passa ainda a ser mais colocada de parte, mais isolada, mais sozinha num mundo do qual não se pretende afastar mas do qual não encontra outra alternativa.

Mas claro que isto é um filme de terror e não é apenas de mensagem que um filme do género deve viver. Boas notícias: mesmo que não queiram saber do que tem para dizer, Smile sustenta-se bastante apenas como um bom e eficaz entertenimento. As cenas de suspense estão bastante bem construídas, o ambiente sente-se pesado por largos momentos e apresenta-nos vários jump scares que resultam na perfeição, sendo este um dos filmes mais assustadores dos últimos anos.

O filme sofre um pouco de alguma previsibilidade típica do género – vi aquele final a chegar a léguas de distância – e, por vezes, parece confiar um pouco em demasia no poder da sugestão e na eficácia dos seus sustos, embora tenha razões para isso porque são duas áreas onde se destaca. Os efeitos visuais – maioritariamente práticos – não estão presentes durantes largos momentos, mas quando aparecem elevam a obra, com algumas imagens realmente aterradoras. E quanto a Parker Finn…que grande estreia no cinema, não só pela forma como nos deixa com os nervos à flor da pele graças a uma condução bastante segura, mas também por apresentar elementos que não muitas vezes vemos no terror a nível da originalidade de planos e transições de cenas.

2022 não pára de nos dar bom terror. Smile aposta numa atmosfera pesada, fortes mensagens e sustos bastante eficazes para nos dar um dos filmes mais tensos do ano. Um pouco The Ring, um pouco It Follows, mas também uma identidade muito própria que deverá garantir que isto não fica por aqui.


Smile
Sorri

ANO: 2022

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 115 minutos

REALIZAÇÃO: Parker Finn

ELENCO: Sosie Bacon; Jessie T. Usher; Kyle Gallner

+INFO: IMDb

Smile

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