Este longo anúncio de quase 2h a marcas, NBA, franquias Warner e a LeBron James como o atleta de elite que também é a melhor pessoa do mundo poderia durar bem menos, mas assim não vendia tudo o que tinha para vender.
Começando pelo que me deliciou bastante:
– Don Cheadle diverte-se absolutamente nesta faceta de vilão. Sendo o actor mais bem creditado para fazer absolutamente o que quiser sem ser questionado neste anúncio, não só foi leve na abordagem como carregou a porção que faz com que este anúncio se identifique como filme;
– O acto mais longo do anúncio, onde me senti mais à-vontade entendendo que estava a ver um filme foi o terceiro, que então faz o derradeiro confronto entre a Toon Squad à Goon Squad. Soube a pouco a inclusão dos capangas do vilão neste acto pois as suas implementações foram interessantes, com coerência pelo que o filme revela a este ponto e de boa colagem a características dos jogadores da NBA que aí foram representados.
Agora o que me deixou constrangido, amargurado, com sensação de manipulação e desdém por mim como espectador tratando-me como mercado-alvo:
– LeBron ofereceu-me 2 pérolas que irei recordar com imenso carinho para sempre: por volta do minuto 16 há aquela piada/observação consciente que traduzo como sobriedade real no guião sobre quem ele realmente é no mundo (mas isso são outros 500) e todo o terceiro acto onde LeBron está mais solto, mais confortável e com menos falas). Isto não será uma coisa boa para o marketing deste anúncio porque se nem aqui o senhor se sai bem, quanto mais em questões extra-basket, e aparentemente ele sabe disso;
– Há uma sobre-utilização de efeitos sonoros tontos e barulhentos para estabelecer que apesar de uma componente forte de actores em live-action, isto ainda quer ser uma animação, mas na verdade fico irritado sinapticamente com os sons enquanto não estou irritado por estar a assistir um anúncio;
– Há entretanto a propaganda a todo e mais algum filme ou série onde a Warner tenha enfiado o bedelho no passado longínquo e recente, com piadas de referência gastas e datadas, ao estilo “melhores momentos (por favor não se esqueçam de nós, afinal fizemos isto, isto, e também isto)”, há a propaganda a marcas a torto e direito, com completo despudor de tentado product placement porque cof cof é uma animação cof cof vale tudo cof cof e há a inevitável propaganda à NBA porque este anúncio tem como desporto de fundo o basketball.
Talvez “Space Jam: A New Legacy” não tenha sido feito a pensar em mim. Afinal de contas fui garoto, mas no tempo do Space Jam original e efectivamente bom, há 25 anos atrás!
Esta proposta é pretensiosa porque tenta replicar a fórmula, com um embrulho mais bonito e cheio de luzes e cores, com um atleta que na vida real tenta descolar-se da comparação ao melhor de todos os tempos Michael Jordan mas que acaba por inevitavelmente ter de palmar o mesmo caminho na tentativa paralela de se superar, embora sem sucesso até à data. Esta confusão faz de LeBron uma personalidade polarizante que vê os seus sucessos serem rebaixados por todos os argumentos e mais alguns, e os seus insucessos serem multiplicados com a fúria de mil sóis porque na verdade, ele ainda é o garoto de 13 anos a quem o treinador matou a infância para se focar no jogo, e pelo caminho ainda se distrai com o que não entende, mas quer fazer parte.