ESPECIAL MOTELX: Speak No Evil irá deixar marcas

O vencedor do prémio Méliès d’argent – Melhor Longa Europeia desta edição do MOTELX é uma co-produção dinamarquesa-holandesa e é um dos thrillers mais negros dos anos mais recentes.

Speak No Evil não é assim tão original no seu conceito inicial. Um casal com uma filha é convidado para passar uns dias na casa de outro casal com um filho e depois de lá estarem, apercebem-se que os anfitriões não são bem quem estes esperavam que fossem. Que devem os convidados fazer? Fingir que está tudo normal? Fugir a meio da noite? Arranjar uma desculpa? Ou será tudo fruto da cabeça deles e aquele casal é tão normal quanto outro qualquer, apenas com diferentes hábitos e costumes?

Apesar da premissa “casal convida casal” não ser nova, Speak No Evil traz algumas nuances que mudam a forma como podemos olhar para esta história. Na verdade, estes casais acabaram de se conhecer numas férias em Itália. O casal que convida vive num outro país, no campo, longe da cidade. O casal tem um filho que não fala, aparentando ter uma doença rara, mas sempre com uma cara triste e comportamentos impróprios da idade. Chegados ao local, quem convida rapidamente parece não se lembrar dos aspetos mais básicos acerca dos convidados. O casal convidado é “forçado” a deixar a sua filha aos cuidados de um homem que acabou de bater à porta a meio da noite? Red flags? Acreditem em mim, irão existir muitas mais ao longo do filme e torna-se pouco credível como é que todos estes acontecimentos acabam por se desenrolar. A certo momento, eu – que vivo num país um pouco mais a Norte – penso que estou a cair num erro de analisar o filme através da minha cultura de alguém mais a Sul. Poderá ser? Não sei, até porque o próprio filme refere que os dinamarqueses e os holandeses são parecidos e gostam de ser diretos, portanto não tenho bem a certeza. O que é certo é que não paramos de gritar para o ecrã “estás a fazer o quê?” ou “porque é que não te foste já embora” de forma repetida.

O grande mérito de Speak No Evil – além de uma conclusão forte e original – é o modo lento, mas misterioso como que vai construindo a sua história, sempre com uma bonita fotografia e uma tensa música de fundo (quando não há, é substituída pelo gélido silêncio). Já critiquei alguns slow burns desta edição por terem apenas a componente “slow”, esquecendo-se do “burn”, mas este não é o caso, conseguindo mesmo dar-nos cenas aqui e ali que nos fazem ter a certeza de que algo não bate certo, aumentando a ansiedade. A atmosfera criada é bastante interessante e algumas cenas onde diferenças culturais são abordadas também resultam bem. Mas claro, não se enganem, isto tudo precisava daquela conclusão para nos ficar na memória.

Speak No Evil foi o vencedor de Melhor Longa Europeia nesta edição do MOTELX e percebe-se porquê. É, de facto, um dos melhores filmes europeus a concurso e o seu último ato dificilmente nos sairá da memória. No entanto, é impossível pensar nesta história sem personagens estúpidas a tomarem estúpidas decisões de forma constante apenas para evitar a confrontação. Nunca aconteceria com uma família portuguesa!

 


Speak No Evil
Speak No Evil

ANO: 2022

PAÍS: Dinamarca; Holanda

DURAÇÃO: 97 minutos

REALIZAÇÃO: Christian Tafdrup

ELENCO: Morten Burian; Sidsel Siem Koch; Fedja van Huêt; Karina Smulders

+INFO: IMDb

Speak No Evil

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