Spider-Man: Across the Spider-Verse é visualmente disruptivo e maximalista

O mundo dos super-heróis está saturado. No entanto, aqui e ali, vão aparecendo interessantes filmes que nos relembram que o subgénero pode sempre ter o lugar ao sol desde que esteja nas mãos certas. Este ano já o vimos com o 3º capítulo de Guardians of the Galaxy. Em 2018 vimo-lo com Spider-Man: Into the Spider-Verse, um filme de animação que leva as animações de super-heróis para níveis de super-produções de Hollywood. A sequela era inevitável. Na verdade, duas sequelas. Spider-Man: Across the Spider-Verse chega-nos este ano e para o ano Spider-Man: Beyond the Spider-Verse. E há razões para isso. Mas vamos a este Across the Spider-Verse

Se há algo que qualquer pessoa destaca no primeiro filme é o quão apelativo é visualmente. Com um estilo muito próprio, o filme quebrou barreiras e tradições da animação, misturando várias técnicas e inovando também nas técnicas de edição. Se é apenas por isso que estão aqui, tenho que vos dizer que o filme ainda está mais disruptivo nesse aspeto. Quando tudo o que está em cena resulta, os visuais são impressionantes, deixam-nos de boca aberta e é quase impossível desviar o olhar. Mesmo quando a história parece hesitante ao que vem e isso acontece…logo no primeiro ato.

Este filme dá desde a cena inicial muito mais destaque a Gwen Stacy. Excelente, a personagem dá bom uso a essa exposição e proporciona algumas das melhores cenas do filme, crescendo tanto ou mais do que Miles Morales durante o seu desenvolvimento. No entanto, é estranho que a mesma seja a escolhida para a cena inicial e, ainda mais, que sejamos atirados para o meio de um subplot seu de rajada. Mais, quando vamos para o mundo de Miles Morales, também somos lançados para um subplot por tempo alargado e quando damos conta ainda não percebemos quais são as principais cartas desta obra. Estamos com mais de 50 minutos de filme. 

O tempo que Across the Spider-Verse demora a estabelecer a sua história principal e ao que vem incomoda porque parece que nos quer dizer que devemos agradecer os belos visuais que nos dá e nada devemos questionar acerca da condução da sua história. Durante este período até temos uma bela cena entre Morales e Stacy no topo de um arranha-céus, com ambos invertidos. Mas ainda não sabemos porque aqui estamos.

A história vai-se abrindo. Há uma deslumbrante cena em Mumbattan (podemos chamar-lhe de uma mistura de Manhattan com Mumbai porque é o que é), cheia de ação frenética no combate ao vilão principal deste filme, Spot, e é a partir daí que muito mais desta história nos é contado, principalmente quando vamos para a sede da Spider-Society, onde, finalmente, tudo é revelado e posto em cima da mesa (e não vos vou revelar mais porque acho que têm uma experiência melhor se nada mais souberem).

Tudo o que o filme faz daqui para a frente é entusiasmante e, melhor, torna-se bastante tenso nas cenas finais depois de algumas inesperadas revelações. Por essa altura, este é um capítulo mais sombrio e adulto até do que o seu antecessor e deixa-nos a querer saber mais de toda esta história complexa e com várias camadas. É, ainda assim, um desfecho algo frustrante porque tudo fica em aberto. Havia formas de antecipar o capítulo seguinte através da conclusão de alguns subplots deste filme, mas essa não foi a opção. O que aqui foi feito foi mesmo um intervalo. Tão só isso. Um abrupto intervalo. 

Já aqui falei de momentos de pura inspiração visual. Quando vemos todos os 1001 Spider-Man (estou a exagerar…por baixo), é impossível a maioria dessas diferentes personagens não nos colocarem um sorriso na cara até pelas referências que as mesmas fazem. Seja quando o vemos como uma versão de Lego, como versões passadas da personagem na televisão ou cinema (animado ou não!) ou como…um T-Rex. Igualmente impressionante visualmente é o que faz nos últimos 30 minutos com o bloco mais emocional a ser cuidado com uma bela edição, parecendo quase que estamos a assistir a uma obra de suspense.

Estaria, ainda assim, a mentir se dissesse que tudo é perfeito visualmente. O facto de tanta coisa acontecer ao mesmo tempo, o facto de tudo andar sempre a 600km/h, de cabeça para baixo e o facto de animações em 2D misturarem-se com 3D, a preto e branco ou a cores, faz com que, por vezes, isto seja demasiado e seja quase impossível evitar uma dor de cabeça ou até desviar o olhar por…simplesmente já não conseguirmos olhar mais para tanta estimulação visual.

Quanto ao departamento de som, este continua a um nível perfeito. As músicas escolhidas continuam a dar um mood urbano e jovem a esta versão do Spider-Man e são apropriadas às cenas em questão. Tudo isso é ainda elevado por uma composição sonora muito boa que acompanha tão bem os momentos loucos quanto os momentos mais calmos (que deveriam ser mais), sem esquecer as cenas de tensão e mais surpreendentes. 

Em suma, esta é uma sequela meritória que, ainda assim, não supera – como filme completo – o seu antecessor. A dimensão da ação aumenta e visualmente impressiona mais do que nunca, embora seja aí também onde abusa de um maximalismo exaustivo. Demora a colocar as cartas em cima da mesa e deixa todas as resoluções para o capítulo seguinte, embora compense tudo isso com uma excelente construção de personagens e com um final tão tenso que quase parece um thriller


Spider-Man: Across the Spider-Verse
Homem-Aranha: Através do Aranhaverso

ANO: 2023

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 140 minutos

REALIZAÇÃO: Joaquim Dos Santos; Kemp Powers e Justin K. Thompson

ELENCO: Shameik Moore; Hailee Steinfeld; Brian Tyree Henry; Luna Lauren Vélez; Jake Johnson; Jason Schwartzman; Issa Rae

+INFO: IMDb

Spider-Man: Across the Spider-Verse

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