Stillwater (ou o conflito entre a aceitação da falibilidade e a insana busca pela redenção)

Stillwater é o bilhete para uma viagem emocional e envolvente como há muito não tinha. Pensava estar a obrigar-me a entrar no comboio nos Restauradores para sair na Amadora, mas passei o túnel da Portela de Sintra e aterrei o balão de ar quente numa encosta relvada terminada em escarpas para o oceano agitado e puro na Nova Zelândia.

Mesmo tendo viés plantado pela leitura da sinopse, por me obrigar a ver este filme para redigir estes pensamentos a horas para lá das menos recomendadas, dou por mim apanhado completamente de gatas com a história, elenco, filmografia, arco do protagonista e desfecho.

Stillwater é: Taken sem a acção com edição mirabolante e ritmo frenético? Não.

Stillwater é: Midnight Express pela perspectiva de quem se preocupou em libertar Billy Hayes? Não.

Stillwater é: uma advogada activista sem o curso de Direito e sem o activismo de The Mauritanian? Não.

Stillwater é: um episódio especial com exagero na recriação de factos ao estilo Presos No Estrangeiro? Não.

Stillwater é envolvente. Toma o seu tempo a contar o que quer contar, mesmo que tenha atalhado por alguma exposição pouco disfarçada para captar o espectador mais desatento e mesmo que tenha sido deselegantemente deliberado a provocar certas emoções para com certos personagens por forma a colocar o espectador num certo estado de espírito para eventualmente lhe retirar o tapete dos pés.

São 2h19 desta proposta de Tom McCarthy onde o exercício foi concluído com aproveitamento. O desenvolvimento da personagem de Matt Damon é de excelência, com um elenco adjacente fabuloso e sinérgico a Damon e à história. Novamente o senhor mostra que é imenso onde mete a unha da representação e desta feita, o saloio Bill Baker com um passado turbulento de crime, álcool e drogas fez-me acreditar em absolutamente tudo o que dizia, fazia e era sem nunca ter bebido um shot, cheirado uma linha ou roubado uma moeda da cesta do peditório.

Se eu fosse um tipo que dá importância a cerimónias de prémios, nomeava já o senhor Matt Damon para Óscar de melhor americano retratado num enquadramento cinematográfico europeu.

De segundo maior destaque a menina Lilou Siauvaud de 11 anos com uma personalidade de cena bastante única onde deu mais do que decerto fora pedido por todas e mais alguma vezes que aparecia na tela e a sua mãe-de-cena Camille Cottin não ficou atrás, como dispositivo de envolvimento amoroso que é mais do que isso e tem o seu espaço também firmado.

Abigail Breslin é competente e não tenta nunca vender o seu papel com um valor inflacionado. Mostra estar voluntariosa para mais altos voos, sem nunca pisar nos calos de ninguém.

Stillwater tira excelente partido da narrativa geral, de onde ramificou com sucesso para frondosos bouquets de sub-enredos em que nada ficou por atar que fosse verdadeiramente importante. Vou dormir num semblante evocativo de um copo de gin que detesto temperado com coentros que adoro com sentido de justas 4 estrelas a este filme.


Stillwater
Stillwater

ANO: 2021

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 139 min.

REALIZAÇÃO: Tom McCarthy

ELENCO: Matt Damon, Camille Cottin

+INFO: IMDb

Stillwater

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