Da autoria de Makoto Shinkai – o homem por detrás de obras como Your Name e Weathering with You – Suzume é mais um produto de Anime que é obrigatório para os fãs. Confesso que o meu conhecimento deste fascinante mundo tem vindo a expandir-se nos últimos anos, mas ainda não me considero um especialista ou um fã hardcore. Ainda assim, só posso recomendar que mais e mais gente vá ao cinema ver obras do género, deixando de parte eventuais preconceitos.
Quando vi o muitíssimo elogiado Your Name senti que estava a ver um filme fascinante a nível visual e sonoro, com uma premissa bem interessante e uma boa mistura de ficção científica com uma história de romance. Ainda assim, senti que havia excessos que me impediam de o adorar, nomeadamente ao nível da exposição do romance. O que penso sobre Suzume não varia muito. É um filme diferente, atenção, mas, simultaneamente, muito parecido. É fácil recomendar este a quem gostou do que Shinkai fez para trás.
Visualmente é um deleite desde o seu primeiro plano até ao último. Quando a personagem principal, Suzume, encontra Souta – que se tornará rapidamente no seu amor platónico – estamos a vê-la a descer de bicicleta uma estrada com uma paisagem impressionante, um pouco a fazer lembrar – de forma ainda mais acentuada – aquilo que se sente a descer para a praia de Sesimbra para os conhecedores. Tudo isto é colocado de uma forma expressivamente calorosa no ecrã com uma animação impecável e um Sol ao fundo do mais bonito e fotogénico que possam imaginar. Quando os maiores elementos sci-fi estão em cena – e a primeira aparição demora pouco mais de cinco minutos – parece que estamos a ver uma superprodução de Hollywood com um nível de detalhe incrível e com uma ação ainda melhor filmada, sendo tudo percetível ao olho humano.
Sonoramente, Suzume também impressiona. Além do som nos momentos de maior ação nos prender por completo à cadeira, a banda-sonora está sempre também muito presente, adaptando-se bem aos mais variados momentos e elevando o que vemos em cena. Também as vozes das personagens estão ao excelente nível a que estamos habituados em filmes do género, sejam as dos nossos protagonistas principais, sendo as dos atores secundários que, em alguns casos, funcionam como autênticos alívios cómicos numa história pesada com tons de “fim do mundo”, mas sempre condimentada com a esperança de um amor impossível que tudo poderá vencer.
Mas é precisamente aí que Suzume perde pontos, sendo isso que me impede de o elevar a um patamar de excelência. Até sou capaz de aceitar a típica história à antiga de alguém se apaixonar por outra pessoa e considerá-la logo o maior amor do mundo, capaz de tudo fazer por esse alguém. Afinal, estamos a falar de uma adolescente. No entanto, o que é feito a nível do romance é exagerado, com uma sobreexploração de sentimentos através do efeito de repetição, abusando da exposição e caindo no campo do sentimentalismo exagerado, lamechas mesmo. Não é a primeira vez que sinto isso com obras de Shinkai e, por muito que o que é feito seja do mais impactante que este mundo tem para dar a nível do que os nossos sentidos captam, é-me impossível passar por cima desse sentimento de que quando mexe com sentimentos – principalmente os amorosos – o filme não nos dá a mesma dose de excelência que apresenta noutros campos. Aliás, sentimentalmente até explora bem melhor outro tipo de relações – familiares ou não – do que o faz nos excessos do romance entre as personagens principais em cena.
Se recomendo Suzume? Claro que sim. É filme de cinema. É filme de grande ecrã. É fascinante o que Shinkai faz a nível visual e sonoro com os seus filmes. Adoro a forma como explora o campo da ficção científica e os seus elementos mais fantásticos. No entanto, tal como nas suas obras anteriores, sinto que sobreexplora de forma excessivamente sentimentalista e melodramática muito do que faz com o romance. Apenas isso impede que coloque Suzume num outro patamar.
