…e o mais engraçado é que não foi o Taika mas foi alguém bem perto que aparentemente tem um contrato de x filmes com a Netflix ou fotos do CEO da empresa nu com o nariz sujo de coca: os irmãos Russo. E nota-se. Há um travo forte a metanfetaminas de estética, edição e humor desengraçado onde lá porque resultou num Dr. Estranho, agora parece que se quer como imagem de marca em tudo o que assinem. Façam um favor e assinem a rescisão.
Claramente isto é uma tentativa de criar um franchise de espionagem de acção que a espaços não se leva a sério, mas que é sério numa estética e edição de assinatura, ao estilo McBifana.
Há sequências que me satisfizeram mais que outras, só que o problema levantado é terem aparecido no terceiro acto quando já me dividi entre o filme e o telemóvel para ver a meteorologia para amanhã… e amanhã não tenho absolutamente sítio nenhum para ir.
Senhores realizadores e editores, vejam se aprendem de uma vez por todas, vinda de mim – excelso catedrático herdeiro intelectual de Roger Ebert do bairro do Texas – esta pérola técnica de como podem elevar os vossos filmes simplesmente com isto – é possível captar e emitir FRENESIM sem cortes sucessivos a cada soco trocado entre actores; é possível induzir ADRENALINA nas acrobacias com EFEITOS PRÁTICOS; é possível injectar ESPANTO com sequências MENOS fantasiosas e “Fast & Furious”escas.
…E senhores Russo: mais flashbacks? É assim tão aborrecido contar uma história que comece em Setúbal e pretenda ir para Alcântara passando por Almada, com algum pontual desvio por Corroios para o café e tomando a ponte 25 de Abril ou têm mesmo que revirar por Azeitão, esbarrar em Alcochete, recuar para o Samouco e entrar por Vila Franca de Xira? Cheira-me a inaptidão por haver dinheiro à vontade para combustível e portagens. Cheira-me a carro com catalisador roubado que caga fumo, mas que vós teimais em declarar que é por ser Seat Ibiza de ’97 e que isso quer dizer originalidade.
Este filme teve o orçamento de 200M$usd. Duzentos milhões de dólares. No cinema há mesmo quem se assoe em notas de 100… Mais utilidade tinham essas notas com ranho que a folha de despesas de produção.
Este filme assenta sobre uma série de livros homónimos escritos por Mark Greaney. Depois de ter visto este filme, não sei o que é medíocre: se o filme, se os livros. Depois de ter visto este filme, não vou tirar esta questão a limpo.
No decurso do doloroso depósito de pensamentos sobre esta coisa com explosões, tiros e socos onde a personagem de Ryan Gosling se recusa autisticamente a expressar mais que três emoções, tropecei ainda mais dolorosamente com o mindinho da alma no canto descentrado da esquadria da ombreira da porta que é a confirmação da Netflix de uma sequela.
Chris Evans é o actor mais solto de todo o filme, que tem um elenco flutuante de estrelas, de desconhecidos e das não menos enjoativas flutuações interpretativas ao longo destas pouco mais de 2 horas de rodagem. Talvez se tenha apresentado mais solto para se descolar do papel de Capitão América, talvez por pesar menos 30kg em massa muscular em soro de super-soldado da vida real chamado de recursos ergogénicos, ao estilo W52-FC Porto. Talvez por ter transferido essa massa muscular sob a forma de definição e entalhes musculares a Ryan Gosling que não escapou ao banalizado por definição “shirtless shot” da Marvel e à barata piada de injecção brusca de quebra de quarta-barreira sobre ser o Ken no filme da Barbie.
Estas duas particularidades é que me remeteram imediatamente a “waititismos”.
Porquê ir buscar o Waititi quando os maninhos Russo é que enterraram fundo na terra revolvida da 7ª arte os pilares de degradação da arte filmada em detrimento do entretenimento capitalista que é a MCU?
Porque apesar dos Russo terem começado, o Gunn ter mostrado como se faz em bom e o terreno ter sido colocado em justo pousio depois deste incêndio de Verão que é a fase 4, o Waititi é aparentemente o recursivo realizador que também aparentemente reúne todas as características dos supracitados para entregar produto de qualidade constante… Constantemente pouco acima de medíocre.
Tal como o cinzentismo na arrogante inexpressividade de Agent Six (Ryan Gosling) é o cinzentismo que, a esta altura do texto, domina o hematoma que contraí pouco depois de meia prosa e que metastizou por todo meu semblante e que me fará dormir mal esta noite.