Tensão, tensão e mais tensão neste thriller dramático reinterpretado pela mente de Antoine Fuqua do original dinamarquês “Den skyldige” de 2018 e protagonizado por Jake Gyllenhaal.
Se me envolvi completamente nesta versão, mal posso esperar por assistir ao original para dar o verdadeiro parecer sem a culpa de me ter rendido à potencial cópia barata americana.
As 3,5 estrelas que atribuo a este filme devem-se ao simples facto de desconhecer que esta obra é uma readaptação, caso contrário levava chapa 4 por pura impossibilidade de atribuir 3,75 estrelas por pura mesquinhice.
Antoine Fuqua continua a mostrar que é mais que o talentoso realizador de blockbusters com dois graus acima de substância, porém sem se demarcar por completo de cunhos de realização que o estabeleceram. Jake Gyllenhaal é uma delas, pela repetida parceria de sucesso em “Southpaw”, outra é como constrói e capitaliza de tensão nos seus filmes, mesmo que mais virados para acção (“Shooter”, “Training Day”, “The Equalizer”) ou drama (“Southpaw”, “The Guilty”).
O que dizer daquele a que eu corriqueiramente apelido de Jake “um dos melhores da sua geração” Gyllenhaal?
Nada mais que isso.
É pau para toda a obra, este garoto de 40 anos com mais fortes 30 de representação ao mais alto nível!
“The Guilty” é uma oportunidade óptima para ele se envolver no papel tanto quanto queira e dar o desenvolvimento com tempo e espaço que lhe é sobejamente permitido, pese embora o restante elenco que consegue uma química impagável de contracena quando esta acontece na sua franca maioria ao telefone.
Não creio que esteja ao nível de interpretação de Tom Hardy em “Locke”, porém são filmes com objectivos diferentes, mais parecidos entre si que distantes. Ainda assim, sempre que foi requisitado, Gyllenhaal mostrou-se altamente competente apesar de eu achar que faltou cunhar esta ou aquela cena com pelo menos uma lágrima. O envolvimento e enredo gritavam por isso e senti que, mesmo que não tivesse de ter o que queria, esta lágrima faz a prestação diferenciar-se de candidata a premiação a meramente cumpridora de objectivos.
A cinegrafia, o som, os planos e a edição a que já estou habituado por parte de Fuqua foram novamente bem empregues. Há simbolismo nestes elementos a determinadas alturas do filme para invocar sentimentos cujas imagens os retratam com toda a transparência. É cinema à prova de expectadores tolos e que adicionam camadas importantes que adensam esta cebola de imersão.
Há uma mão cheia de momentos daqueles em que exclamo “se ele faz isto em vez daquilo/direita em vez de esquerda, não há filme”, mas o ritmo e avanço dos actos quase que me ilude a seguir viagem com ele. É 1h30 de rodagem onde o que mais me custou foi pestanejar, não por frenesim, não por rapidez ou confusão, mas sim pela tensão e imersão que são muito bem pautadas e estabelecidas desde cedo. Estou altamente satisfeito com “The Guilty” e com ainda maior curiosidade para “Den skyldige”.