The Novice quer ser gente grande

The Novice é a representação cinematográfica de um pré-adolescente que não se contenta com quem é e tenta desesperadamente mimetizar quem idolatra. Como o jovem que não tolera mais a infantilidade do ser criança, e deseja experimentar a intensidade e seriedade da vida adulta. Ou a criança que se sente insuficiente e faria de tudo para ser o(a) colega legal, misterioso(a) e complexo(a) do fundo da sala de aula.

Lauren Hadaway (realizadora, argumentista) quer ser gente grande. Quer ser Black Swan (Cisne Negro): um filme intenso sobre adultos vivendo intensamente uma obsessão auto-destrutiva. A referência é ótima, Darren Aronofsky manda muito bem na realização de Black Swan. Porém, assim como o obcecado pré-adolescente, Hadaway não entende quem tanto quer ser. Então, fixa-se no que enxerga como atraente no filme/adulto que venera, e extrai disso apenas o que molda sua superfície, deixando de lado a sua essência e o que realmente importa e traz peso para sua existência.

Diferente da protagonista de Black Swan, não temos tempo para conhecer bem Alex Dall (Isabelle Fuhrman). Já na apresentação da personagem, somos perturbados por um de seus ataques paranóicos. Ela escreve convulsivamente em um exame universitário, enquanto vozes fantasmagóricas de sua consciência tagarelam sem parar, tudo isso acompanhado de uma edição afetada que aposta no desconforto e tenta fazer com que entremos de cabeça na paranóia de Dall, mas acaba apenas gerando confusão. Afinal, o que diabos está acontecendo aqui? Por que essa paranóia toda? Quem é essa moça? Eu deveria me sentir tenso com isso? Como, se não sei quem ela é, não conheço seus dilemas, suas ambições, muito menos o que tanto a perturba?

Tudo bem, pelo menos de uma coisa ficamos sabendo com mais tempo de filme: Dall faz parte de um grupo universitário de remo e quer desesperadamente tomar uma posição de destaque na equipe. Beleza, conhecemos a ambição da protagonista. Mas o que afeta tanto o seu psicológico ao ponto de fazer dela uma maníaca descontrolada?

Não vemos praticamente nada da vida pessoal de Alex Dall. Ela faz provas repetidas vezes, agressivamente, como se estivesse no limite. Então, ela corre desesperadamente para destinos dos quais sempre se atrasa, pelo simples motivo de que o argumento acredita que pessoas perturbadas se atrasam pois suas vidas são um caos. Alex também treina com agressividade e desespero. E também come com agressividade e desespero. Aé, ela também se move e faz tudo, a todo segundo, com agressividade e desespero. Uau! Muito intenso!

Mas peraí! De súbito, o argumento se dá conta de que uma pessoa não pode ser tensa 24 horas por dia. Alex agora vai a uma festa com sua amiga e, para isso, esquece sua fobia social e se transforma em uma menina descontraída. Porém, após isso, ela volta a sua rotina de paranóia e obsessividade. Então, novamente, o texto decide dar a ela uma folga, e a garante uma bela de uma foda. Mas uma foda tão boa, que é capaz de transformar completamente não só seu estado de espírito, como todo o tom do filme!

Agora Alex corre, treina e se atrasa desesperadamente, mas não paranoicamente, como antes. A moça autodestrutiva de antes dá lugar a uma garota fofa de obsessão divertida, que garante cenas cômicas de puro foco e determinação! Até que… como se virasse uma chave na mente da pobre Alex, durante um treino, ela volta a ser o ser paranóico e perturbador do início do filme. Mais vozes! Mais montagem afetada! Mais movimentos convulsivos e violentos! QUE CANSAÇO

Não bastasse tudo isso, Lauren Hadaway também colhe frutos de outra obra de Aronofsky: Requiem for a Dream (Requiém para um Sonho). Daqui Hadaway suga o famoso “hip-hop montage“, técnica de montagem pensada por Aronofsky para criar um ritmo alucinante pro seu filme e transmitir a perturbada rotina de drogadição de suas personagens. Assim, como o jovem já citado que imita o estilo descolado  do colega do fundo da sala sem nem mesmo compreender seu estilo de vida, Hadaway faz uso desse truque de montagem pois acha legal, e apenas isso. 

Ah! Não posso esquecer também de um dos elementos mais importantes para um filme artístico/cool/adulto/complexo. The Novice também vem carregado de mensagens abstratas e visões alucinógenas que surgem disfarçadas de ideias inteligentes e misteriosas, mas que causam vergonha alheia devido tamanha obviedade e exagero.

Tá bom, chega de falar desse filme! Assistir a ele foi penoso e, por mais que goste de falar mal de obras das quais detesto, escrever sobre ele é ainda mais desgastante. Todo sucesso à Lauren Hadaway e a eterna órfã psicopata, Isabelle Fuhrman, mas The Novice não me desce.


The Novice
The Novice

ANO: 2021

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 1h 37 min

REALIZAÇÃO: Laren Hadaway

ELENCO: Isabelle Fuhrman, Amy Forsyth, Dilone

+INFO: IMDb

The Novice

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