Este filme vai contando aos pedaços os sub-enredos que o completam para serem bem resolvidos no clímax e com potencial para explorar mais sobre este microcosmo.
Mark Rylance é o melhor actor do filme de longe. Não se leva a sério nem leva a personagem demasiado a sério, dando tanta profundidade quanta a necessária a alturas distintas dos actos. As escolhas representativas feitas bem como o ritmo dos acontecimentos e revelações de quem é o senhor alfaiate são equilibradas, livres q.b. e servem positivamente a atmosfera nocturna/criminosa/noir que demarca o filme.
O trabalho de câmara é digno de reparo, sem grande confusão visual quando cerca de 80% do filme se passa nas mesmas 2 divisões. Sabemos sempre onde estamos, onde estão as personagens e como se transforma o espaço ao acompanhar os desenvolvimentos.
Tanto a paleta de cores como a banda-sonora são artisticamente elevadas e, acima disso, servem à construção e estabelecimento da atmosfera que me prendeu sem esforço.
Este enquadramento foi importante para sustentar a tarefa ambiciosa de entregar um filme onde o objecto de observação foram as personagens a mais que o enredo em si, em que o segundo não fica tão aquém do que pretende fazer. A relação mútua entre história-personagens foi notada e resistiu a uns momentos de teste de resistência à tracção no segundo acto que facilmente emulsionariam todas as bobines de tecido num corante berrante e feio que ninguém quereria vestir.
As baínhas alinhavadas com perguntas ou explorações um pouco mais elaboradas de cada sujeito que se envolveu na trama foram bem cosidas com pesponto sagaz e experiente, permitindo as personagens interessantes que o fossem e as esquecíveis, esquecidas, mas nunca ignoradas.
Johnny Flynn foi um proficiente antagonista, quer como foi dirigido, quer como interpretou Francis. Este rapaz cumpriu muito competentemente com o que lhe fora incumbido, sem excessos nem desvios que estragassem as medidas marcadas a giz por Rylance ao longo de todo o filme.
Zoe Deutch como Mable foi a mais fraquinha do todo. Não sei ainda se por culpa própria ou por falta de força da sua personagem ou de como Mable retira os vincos das calças azul-ciano de ambições pessoais que estavam perfeitas com o colete cinzento-listado de esquemas e engodos que, mérito seja conferido, nunca foi clara nas suas intenções de rebentar os suspensórios em burberry e deixar todos de trusses metafóricas à mostra.
Este filme de estética e charme modestos, mas elegantes tem 1h45 de rodagem, que não custou a passar. Entreteve e deixou-me triste no final por haver tanto mais para explorar, no entanto permitindo essa exploração numa outra entrega, nesta indústria actual que já não remenda, emenda, arranja nem refaz o que dá a vestir, mas que acha mais fácil fazer mais e mais, tanto quanto consiga vender até se entender que não pega, porque a moda é outra.