“Tigre de papel” é uma tradução literal de uma expressão chinesa que se enquadra nos mesmos moldes que “fogo de vista”, “cão que ladra, mas não morde” ou “a montanha pariu um rato”. Uma vez descodificado o título deste filme, a paródia começa. Contrariamente ao que as expressões poderão inferir, The Paper Tigers resultou.
O humor é curto, seco e de bom gosto e implementação. As piadas não são flagrantes e cheias de elementos visuais e/ou auditivos, quais setas de néon, que nos apontam que tenhamos de rir naquele dado momento.
The Paper Tigers não condescende e é passível de atrair fãs multi-camada ou com expectativas distintas. Quem espera uma comédia, tem-na. Quem entende ver um filme de acção é bem servido. Quem quer uma aventura com tons dramáticos, aprendizagem e crescimento também tem isso. Bate a marca das pouco abaixo de 2h de rodagem e é bem filmado.
A coreografia está de parabéns. Há credibilidade no impacto dos golpes e a execução técnica dos actores, nos diversos contextos, está no ponto.
Matthew Page é o sujeito a destacar! Conheço este senhor de outras andanças (como Master Ken nos vídeos de paródia de artes marciais de Youtube “Enter The Dojo”) onde impera o humor acima de tudo e a sua desconstrução dos dogmas das artes marciais cujo caminho paralelo é o entretenimento e a atracção de público mais plebeu a este mundo são dignos de realce, destaque e louvor.
Aqui, Page interpreta Carter: o norte-americano, então tornado “sifu” que ama de alma e coração o Kung Fu, toda a mística, disciplina, cultura e até nacionalidade da arte, mas que não é lá muito bom. Precisavam-se mais minutos desta pérola que tem de brilhar com maior frequência frente às câmaras. Com jeitinho, saca-se um spin-off que se escreve sozinho sobre esta personagem (contratem-me).
Outra menção mista de honrosa e entristecida vai para Ken Quitugua, o vilão linear da trama, que é um autêntico bicho físico e de capacidade atlética, onde o tempo em que apareceu a fazer coisas foi criminosamente curto.
O realizador e escritor Quoc Bao Tran está de parabéns. Este filme decerto fez-me pesquisar mais sobre o que já terá feito e o que poderá vir a fazer. Dentro da amálgama de géneros a que se propõe, The Paper Tigers não é perfeito em nenhum, mas respeitosamente não compromete em nenhum. É também fácil obter (e não atingir, almejar) sucesso quando se nota a paixão e gosto na obra.