The Tender Bar (Bar Doce Lar) fala sobre o impacto causado pelas relações pessoais na vida de alguém. O filme não se importa em abordar boas ou más influências e apontar quais relacionamentos agregam valor às nossas vidas e quais são descartáveis. Muito pelo contrário, a biografia de J.R. Moehringer mostra que todas nossas relações são imperfeitas e essenciais para a formação do nosso indivíduo pessoal e profissional.
A trama foca no relacionamento de J.R. com seu tio, Charlie (Ben Affleck), trazendo esse vínculo como o mais importante para o desenvolvimento do argumento. Charlie faz o papel de figura paterna, tomando o lugar de um pai ausente e tóxico. J.R. aprende tudo com seu tio: aprende sobre amizade, sobre confiança, sobre integridade, sobre ser homem.
De um lado, temos o pai. Implacável e indiferente, que toma o mundo pra si e faz dele o que quiser, quando e se quiser. O retrato perfeito do homem machista que se vê como superior e nega a qualquer um satisfações ou a dádiva de seu afeto.
Do outro, temos o tio. Um homem gentil e acolhedor, que por mais que demonstre carinho e dedicação na criação de seu sobrinho, não escapa de atingi-lo com toxicidade machista. Além de apresentar a J.R. estereótipos de como ser um homem de verdade, Charlie não exita em tratar mulheres com grosseria e indiferença. Porém, apesar desses contras, há muito mais de positivo a se aproveitar dessa relação, e é aí que mora a beleza de The Tender Bar: na imperfeição.
Vemos isso em todos que se fazem próximos de J.R.. Temos a mãe, que faz de tudo por seu filho e se doa ao máximo para lhe fazer feliz, mas que não consegue evitar de criar expectativas sobre o futuro dele e lhe impor destinos não consensuais; o avô, que geralmente se demonstra indiferente à sua família, mas que nos momentos de fragilidade apresenta-se com afeto; a namorada, que o ama com muita paixão e tesão, mas que não exita em partir seu coração e abandoná-lo… consecutivamente. Estão todos lá, o ferindo, o amando, o incentivando e o decepcionando, mas, principalmente, o ajudando a crescer.
Tudo isso é envelopado em um longa leve e gostoso de se assistir. George Clooney (realizador) faz de tudo para fazer do seu longa um comfort movie. Desde a edição, até a banda sonora: tudo é conduzido com um ritmo divertido e inventivo. A ideia aqui é sempre manter o clima descontraído, evitando se prolongar nos dramas, quando apresentados com mais ênfase, e abrindo espaço para romantizações e liberdade poética para adicionar ficção à biografia, o que proporciona bons momentos de alívio cômico.
Essa despretensão também pode ser percebida nas atuações do filme. Temos interpretações mais densas como a do grande destaque do filme, Ben Affleck. Entretanto, no geral, Clooney prefere uma abordagem menos realista, muitas vezes beirando a caricatura. Essa escolha não poderia ser mais acertada, uma vez que combina muito com o ritmo quase aventuresco de The Tender Bar.
Chamo o filme de aventuresco pois, diferente de outros coming of age, The Tender Bar parece mais uma jornada da infância até a vida profissional de J.R., onde ele deve vencer provações e mostrar-se digno do futuro que almeja alcançar, do que uma grande discussão dos lemas e ansiedades pessoais de um jovem. E, no fim, somos presenteados com um ótimo filme que empolga e diverte, ao mesmo passo que nos comove ao apresentar uma história repleta de experiências e laços extremamente verdadeiros e relacionáveis.