The Trial of The Chicago 7 (ou O filho do The Central Park Five com o Find Me Guilty)

ALERTA: Evitar ver este filme a todo o custo após arroz de pato. A soneira é legítima e, tal como o sistema digestivo cheio de hidratos de carbono, considero que esta metragem custa a carburar mas vai ao sítio, prometo.

Nota: 3 de 5 estrelas, antes que adormeça. O acto introdutório é compenetrante mas aquele primeiro encontro do advogado-procurador Schulz com o Procurador-Geral Mitchell deram cabo de mim. Fechei os olhos por 7min e ambos ainda estavam na mesma sala. 

Imediatos parabéns à realização e a todo o elenco que nunca comprometeu ao que foi chamado a interpretar. Nenhuma pancada foi fora de ritmo no que concerne ao diálogo rico, muito poucas vezes (mas existentes) desnecessário e cargas emocionais de disparo igualmente rápido a cada troca com cada interação. Aaron Sorkin aqui a mostrar-se mais que um excelente escritor de diálogos: um óptimo realizador e director de actores. Não esperaria menos de quem nos providenciou The West Wing (Os Homens do Presidente, série política. Até ter aparecido a House of Cards não havia nada mais tão excitante em TV como poderia haver neste tema.) ou A Few Good Men (Uma Questão de Honra: um filme de tribunal com enquadramento militar, o que por si só poderia ser altamente maçador, mas mais uma vez Sorkin aqui operou a sua magia de diálogo).

A estética evocativa da filmografia, a montagem, o formato de disparo rápido nas sequências de retrospectiva para descrever acções mais ou menos preponderantes, mas que avançam sempre a história, tudo isto comporta um pacote completo e riquíssimo que eleva a experiência para o mais comum espectador que saiba ou não do que se trata o teor do filme.

Até aqui, quem lê pensa, legitimamente: então companheiro, mas por tantos vivas que passas ao filme, dás 3 estrelas porquê?


Cá vamos. O juiz é o vilão declarado pois nele se encerram todas as mensagens que o filme quer passar sobre “o que está mal com o Sistema”.
A incompetência, a caducidade gritante de ideologias, a subserviência cega a quem é soberano, a não menor cegueira de poder, o porta-voz da vontade da soberania, o seu mensageiro e carrasco, mas tudo dentro da mecânica estabelecida mascarada de legal e imparcial são carregados activamente pelo juíz a cada momento em que se expressa.
Se isto é uma forma rebuscada de Sorkin nos poetizar de que o Juiz é o bode expiatório que enraivece e injustiça, na mesma medida que na história os arguidos são o bode expiatório do Estado para os fazer de exemplo de que nada nem ninguém está acima da Soberania, por mais ou menos morais que possam ser, então comigo falhou. E dar esta interpretação já é prémio que substitui a potencial 4ª estrela que não dou. Como tal, de forma mais simplista digo que foi barato formular o juíz como face declarada de incompetência concertada quando o próprio decurso do filme faz questão de indicar que “não é bem assim”.

Bobby Seale estar ali ou não estar, independentemente de historicamente ter estado implicado nos factos descritos, bem como a forma de como o Sistema se comportou com ele, é mais desnecessário que uma cena de sexo lésbico ter de demonstrar graficamente o cunnilingus para validar essa sexualidade, oh Kechiche… Desmontando e desdobrando este pensamento: o sub-enredo de Bobby Seale não adiciona nada ao teor narrativo subjacente. Há uma mão cheia de indivíduos que são simbolicamente acusados de algo para servirem de exemplo. E é isto. Se está lá o negro simbólico que foi ainda mais enxovalhado que os outros, isso até me subtrai do enredo principal que é político acima de tudo e que culmina no seu extremo mais negativo em violência e morte. Não devia lá ter estado. Não porque não fosse importante singularmente, mas porque pareceu forçado e a sua presença dilui a sua história como menor e anexa. Aqui queimaram mais uma estrela.

 


The Trial of The Chicago 7
Os 7 de Chicago

ANO: 2020

PAÍS: USA

DURAÇÃO: 129 min

REALIZAÇÃO: Aaron Sorkin

ELENCO: Eddie Redmayne, Alex Sharp, Sacha Baron Cohen

+INFO: IMDb

The Trial of The Chicago 7

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