Sou um enorme fã de terror. Sou um fã do cinema sul-coreano em geral. Assim, quando a Netflix anunciou esta produção própria com alguns nomes conceituados da praça, pensei que poderia vir daqui uma grande surpresa. Fico sempre desconfiado quando este tipo de projetos são dados a um realizador novo, sem créditos firmados. Mas o elenco levava-me a pensar que isto poderia mesmo valer a pena e que o tal Tae-Hyung Kim pudesse apenas ter bons padrinhos que lhe possibilitaram esta oportunidade.
Se Tae-Hyung tem padrinhos na cozinha ou não, eu não sei. A verdade é que ele também é o escritor e a história é das coisas mais interessantes que o filme tem (já o guião é uma trapalhada, mas já lá vamos). A introdução despertou fortemente o meu interesse e pensei mesmo que vinha daqui coisa boa. Fala-nos de um mal adormecido, fechado numa caixa enterrada no deserto há milhares de anos atrás. Fala-nos de um monge que percebe que algo de errado aconteceu e que sabe o que é preciso para evitar que o mal prevaleça sobre o bem. Ao mesmo tempo, do lado policial, dois homicídios pouco explicáveis são investigados, tentando-se perceber a racionalidade do sucedido. Tudo bem até aqui.
Mas o filme perde-se rapidamente. De repente, temos as duas histórias a correr em paralelo – obviamente que se irão interligar, mas não conta para o caso – e se de um lado parece que estamos a assistir a um (fraco) thriller policial coreano, do outro assistimos a um drama místico, com algumas pitadas – mas poucas – de terror. Esta falta de coesão na sua estrutura e no que pretende ser em simultâneo faz-nos perder o foco do material que nos deveria estar a absorver. E nada contribui que o filme tenha um ritmo bastante lento em qualquer uma das histórias abordadas. Sou um fã de slow burns, sou um fã de slow burns asiáticos, mas realizar um bom slow burn, com todos os elementos no sítio certo, sem tornar isso numa missão secante para o espectador, não é para qualquer um.
O filme é lento não porque procura colocar-nos a pensar; não porque procura ser introspectivo; é assim apenas porque parece não conseguir ser de outra forma. Nada na sua estrutura, nos temas abordados e no que pretende fazer com os conceitos de misticismo deveria ter-me posto com vontade de dormir 14 horas seguidas, mesmo depois de ter bebido duas bebidas energéticas. Mas pôs. Também não ajuda que as partes que deveriam elevar o suspense e a tensão, sejam normalmente estragadas por medíocres efeitos sonoros e ainda piores efeitos visuais. Vamos com uma hora de filme e damos conta que nem a investigação policial nos cativa nem os elementos sobrenaturais, percebendo que é difícil o filme se recompor daqui. O que não o faz. Até porque já nos tinha perdido a meio da sua duração, por muito que daí para a frente nos apresentasse a sinfonia nº5 do Beethoven interpretada, na perfeição, por todos os elementos do elenco.
Tudo é mau? Nada disso. Além da história ser – ao início – cativante, também os atores tentaram de tudo para salvar esta obra da mediocridade, com alguns bons desempenhos, principalmente dos mais seniores integrantes do elenco (pobre Sung-min Lee…).Também a fotografia do filme é um ponto positivo, levando-nos, por vezes, a apreciar as cenas que estávamos a ver, mais pelas questões estéticas do que pelo conteúdo apresentado (excepto quando metiam os pobres efeitos especiais ao barulho). As primeiras imagens da rapariga a sorrir – vão perceber logo – são assustadoras e funcionam, realmente, bem. Por incrível que pareça, depois adicionaram-lhe os efeitos, e tudo cheirou a falso, perdendo todo o impacto.
The 8th Night tinha potencial para muito mais. Tem uma boa história de base, um excelente elenco e uma bonita fotografia. No entanto, perde-se a tentar perceber o que quer ser, perde-se em vulgares efeitos sonoros e visuais, perde-se num ritmo errático e perde-se numa fraca edição. Mas vamos dar um desconto: talvez até quem estava a editar a obra, tenha adormecido de tédio.