Antes de mais, uma confissão: costumo gostar de filmes de tubarões mesmo que eles não valham grande coisa. De uma forma ou de outra, consigo habitualmente arranjar motivos de interesse, muitas vezes apenas pelo valor de entretenimento e foi com com esse espírito com que comecei a ver este The Black Demon.
Nada sabia sobre a história do filme e ainda bem que assim foi. Se soubesse provavelmente iria com preconceitos e poderia pensar que isso estaria a afetar o meu julgamento. É que The Black Demon chama-se assim porque é mesmo sobre um demónio. De forma abreviada: este tubarão enorme (um megalodon, uma criatura com tanto potencial como maus filmes há sobre ela) ataca porque está a vingar-se de algo. Está a vingar-se de homens maus que destroem o ambiente. A sua existência tem explicações divinas e místicas que remontam até aos deuses aztecas…e ele procura presas. Pelo menos, o último sacríficio…!
Consegui a convencer-vos a ver isto? Bem, eu tentei. Mas agora até vou dar o que poderiam ser bons motivos: isto tem bons atores. A sério! Josh Lucas é um velho conhecido do cinema e da televisão norte-americana. Ele já fez parte de algumas das melhores produções de Hollywood, mas decidiu aceitar este cheque. Até porque a vida de ator com estatuto mas sem ser A-list em Hollywood não é fácil. Entende-se. Menos se entende a sua representação ao longo deste filme que chega a roçar o patético ou, no mínimo, o desinteresse profundo. A sua mulher em The Black Demon é interpretada por Fernanda Urrejola, alguém que muito bem esteve em Cry Macho ou na série Narcos: Mexico. Está, felizmente, a um nível aceitável. Pelo menos, tenta. Quem bem está é Julio Cesar Cedillo, sempre capaz de dar o melhor a cada uma das suas personagens depois de bons papéis em Sicario e…Narcos: Mexico também.
É este trio o suficiente para verem este filme? Claro que não. Este filme demonstra que os argumentistas em greve – embora talvez até lá estejam os deste filme também… – têm toda a razão do mundo. Não se fazem bons filmes sem um bom argumento, não interessam os atores que lá estejam. A história ridícula é contada em vários trechos de um modo nada credível…e risível sem o pretender. Fá-lo depois de várias pistas com música de mistério própria de filme de série C. Nesta história os locais são representados tal como vocês esperam: desde os corrompidos que qualquer nota aceitam até aos que têm tendências sexuais agressivas. Nesta história tudo parece ainda pior porque cada linha de diálogo parece ter sido escrita apenas porque algo tinha que ser escrito para ocupar o tempo entre ataques do tubarão. Provavelmente por um puto de 10 anos.
Não me quero alongar de mais porque não sou o maior fã de escrever sobre o que não gosto. A realização é banal, a edição idem e o tubarão não é do mais convincente a nível visual, mas até que não é das piores coisas aqui. O filme tenta fazer uma crítica social à indústria petrolífera e ao mundo corporativo e, por mais estúpido que isso soe, até é aí que nos dá os melhores dez minutos, ao revelar-nos algo do passado com impacto no presente. Mas é muito pouco. É mau, parece filme perdido nas prateleiras de videoclube.
E o pior é que isto foi aos cinemas norte-americanos e irá estar, no próximo mês, em alguns cinemas portugueses. A audácia disto ter direito a um lançamento no cinema! Um péssimo guião que faz com que a maioria dos maus filmes de tubarões pareçam obras-primas. Há bons atores aqui e tenho pena que tenham aceite este trabalho que nem como divertimento escapista serve. Recebe uma estrela porque mostra um corpo dividido em duas metades, o mínimo que exijo de um filme do género. Ah e também porque fala bastante em deuses aztecas. Faz sentido? Não. Nem este filme.