The Good Nurse (O Enfermeiro da Noite) é intenso. Ao explorar os sentimentos de dor e angústia de maneira mais internalizada, o true crime cria uma atmosfera asfixiante de agonia e medo constantes.
A cena de abertura do filme demonstra muito bem, seja em termos técnicos, ou de tom, o que devemos esperar de The Good Nurse. A câmera se aproxima lentamente da personagem Charlie Cullen (Eddie Redmayne), enquanto ele observa, impactado, seus colegas tentando reanimar um homem à beira da morte. O quadro fecha lentamente no abalado enfermeiro, o enclausurando, enquanto a banda sonora sintética aumenta gradualmente, originando uma sonoridade hipnotizante, e dando vida a uma cena desconfortavelmente envolvente.
E o filme assim segue por quase toda sua duração. Respeitando o tempo de cada take, prolongando-os o quanto for necessário para se manter a intensidade de cada cena. Isso ajuda tanto no envolvimento com as personagens, pois, com os maiores respiros e a economia de cortes entre os takes, é possível extrair mais naturalidade dos atores, quanto na criação de tensão e suspense.
Por isso, é grande o estranhamento causado por algumas cenas de diálogo de The Good Nurse. Ignorando o formato predominante no longa, cenas exageradamente fragmentadas se destacam do restante do filme, causando confusão e quase comprometendo o ritmo e imersão tão bem construídos desde o fade-in inicial.
Agora, o que não oscila de maneira alguma, são os trabalhos de atuação prestados pelos protagonistas Jessica Chastain e Eddie Redmayne. Bem, Redmayne oscila, sim, mas de maneira tonal. Mas, quanto à qualidade, não há o que se queixar do que a dupla entrega em cena.
A palavra chave para descrever o trunfo de suas atuações é a internalização. Ambas personagens ocultam muito do que sentem e almejam. Seja para não abalar as pessoas que as cercam, seja para garantir direito a condições de vida e bem estar mais dignas, ou seja para esconder suas intenções condenáveis.
Com a crescente tensão do enredo, a sutileza vai deixando de ser viável, ou suportável, e logo dá lugar ao completo desespero e psicose. A atuação, então, passa a ser mais afetada, entretanto, nunca parece exagerada demais, ou desnecessária. Redmayne é conhecido por suas personagens cheias de excessos, que nem sempre resultam bem, e Chastain recebeu, ainda este ano, um Oscar por viver a super excêntrica Tammy Faye, mas, aqui, os dois se comportam bem, e caminham com segurança pela linha tênue entre a atuação de alto tom, porém de bom gosto, e a atuação exagerada e cansativa.
E é a dinâmica entre as duas personagens que salva o final do filme de ser entediante. A conclusão de The Good Nurse é um tanto anti climática, pois parece desenrolar-se fácil demais. Há, sim, uma grande problemática psicológica que dificulta na execução das ações das personagens, mas, de um modo geral, tudo se desenrola sem muitas complicações.
Com isso, The Good Nurse pode ser considerado um filme muito intenso, com uma excelente qualidade técnica, que cria com êxito uma experiência sensorial e hipnotizante de desconforto e agonia, e que é salvo de um final morno pelo ótimo trabalho de seus protagonistas. É uma boa aposta para quem aprecia obras true crime e/ou com abordagens técnicas e/ou narrativas menos óbvias. Ótimo filme.