The Green Knight era um dos filmes que eu havia colocado no meu top-5 de mais antecipados do ano. A expetativa era altíssima, principalmente pelo que já se conhecia do filme – história, trailers, nomes envolvidos – mas também porque quem o havia visto só dizia coisas muito boas. Cumpriu com as minhas expetativas? Não é algo que possa dizer.
A história, baseada num famoso poema Arturiano do século XIV, fala-nos de Gawain, sobrinho do Rei Artur – e alguém que liga mais aos prazeres da vida do que às suas responsabilidades – que parte numa jornada épica em busca de honra eterna, testando a sua coragem. E como é que ele se mete aqui? De uma forma bem interessante. No dia das festividades de Natal, onde o mesmo se encontra presente, um misterioso cavaleiro verde entra pelo palácio e lança um desafio a toda a corte: quem for capaz de lhe desferir um golpe, poderá ficar com o seu machado, sob a condição de que essa pessoa deverá viajar e procurá-lo no Natal seguinte, sofrendo semelhante golpe. Gawain – armado em inteligente – fá-lo, decapitando o cavaleiro. O cavaleiro depois surpreende ao pegar na sua cabeça e, com um riso maléfico, lembra Gawain de que ficará à sua espera para cumprir a promessa.
Não há dúvidas de que o conto é interessante e que esta premissa tem um enorme potencial. Não só ao nível do que podemos ver no ecrã, mas também em todas as metáforas que podem daqui ser retiradas (e só vos falei do início da mesma). E esse primeiro ato não falha. É interessante a criar mistério, a colocar-nos na ação, mostra-nos logo uma bela fotografia e uma música que varia entre o épico e o misterioso, que encaixa perfeitamente no que vemos. O problema é que o segundo ato é um verdadeiro teste à nossa paciência. Filmes lentos e reflexivos são excelentes quando nos têm algo para dizer, quando a trama avança, mesmo que de um modo lento. Acontece que The Green Knight segue uma tendência muito usual nos filmes mais artísticos dos dias de hoje: coloca a estética acima do conteúdo e disfarça isso com belos e longos planos, em que absolutamente nada acontece em cena. O conceito de slow burn tem estado sob ataque nos últimos anos, sendo confundido apenas com slow, uma vez que pouca coisa vai queimando, a não ser uma enorme monotonia. O que vemos é belo, certo. Mas monótono.
O referido no parágrafo anterior irá fazer com que este filme seja visto completamente diferente por público e críticos. Quanto mais gente veja este filme, mais iremos ter a perceção que não é para o público em geral, que até pode ser erroneamente atraído pela história, esperando uma clássica histórica medieval. Ao mesmo tempo, críticos de cinema irão adorar todos os aspetos técnicos e, como estudiosos que são, irão adorar o filme por isso, não tendo em conta algumas sensibilidades necessárias para que uma obra seja mais do que apenas um objeto de estudo. Ambas as visões são necessárias no cinema, mas, embora, The Green Knight tenha potencial para agradar a ambos os campos, a verdade é que David Lowery há muito que parece ter escolhido que a sua carreira e as suas enormes qualidades no uso da câmara serão apenas utilizadas para agradar a críticos e estudantes de cinema, dedicando pouca atenção ao público em geral. É uma opção, mas gostava que este filme se interessasse mais pelo espetador e que não ficasse tão preso no seu pretensiosimo artístico, onde procura mostrar-se sempre acima daquilo que, de facto, é.
No campo das atuações, não tenho nada de negativo a apontar. Dev Patel está bastante bem no papel da personagem principal, levando-nos a ir com ele nesta viagem, sentindo o que ele sente e duvidando do que ele duvida. Patel reage também bem, e credivelmente, quando estranhas coisas vão acontecendo à sua volta – desde uma constrangedora cena com a personagem de Vikander na cama a um diálogo com uma raposa falante, passando pela observação de gigantes monumentais. Alicia Vikander funciona relativamente bem num papel misterioso e sedutor (embora já o tenhamos visto bem mais profundo, por exemplo, em The Lord of The Rings) e Joel Edgerton é também um grande destaque, não se percebendo bem de que lado este está, aumentando o mistério da trama.
O filme reequilibra-se no último ato e tem uma conclusão bastante interessante. Ainda assim, fica a ideia de que Lowery acha que tem mais a dizer do que, de facto, o faz. Tecnicamente, é um filme quase perfeito. Tem, no entanto, problemas de ritmo e a história é conduzida de um modo pouco cativante para o espetador que não esteja preparado para o que vai assistir. Por vezes é mágico, mas é um filme que apenas irá satisfazer críticos de cinema e cinéfilos mais hardcore.